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A AQUACULTURA UM RISCO PARA A HUMANIDADE?
Jaime Menezes *
Por absurdo, com esta visão catastrofista, passaríamos a ser vegetarianos exclusivos, até que se conclua que as plantas têm sentimentos….
Esta percepção «obrigou» a olhar-se para a produção de pescado em cativeiro, isto é, aquacultura, desde finais do séc. XIX, particularmente de salmonídeos (salmões e trutas) e no séc. XX ela teve um incremento considerável em espécies marinhas e de água doce , particularmente a partir da segunda metade, nos anos 60, na qual se produziram 6,5 milhões de toneladas (MT), Segundo a FAO a produção mundial da aquacultura em 2014 atingiu os 90,4 MT, sempre em crescendo e aproximando-se da produção pesqueira (93,7 MT) para naturalmente a ultrapassar antes de 2050. Para este valor cerca de 50% é de peixes (marinhos e de água dôce), 30% de algas e o restante pescado que inclui moluscos, crustáceos, etc.
Sem a produção aquícola, o pescado, com os peixes em particular, seria um produto de luxo, isto é, apenas ao alcance dos ricos. Basta comparar os preços dos produtos da aquacultura com os da pesca, numa relação aproximada de 1:3 a 1:5.
Quaisquer espécies de pescado, tal como os moluscos (ostra, mexilhão, ameijoa) e os crustáceos (camarão, lavagante, lagostim de água doce), são susceptíveis de contrair doenças, situação que se agudiza na produção em cativeiro com a grande concentração de animais por m3 ou hectare. Ora o objectivo primordial em aquacultura, como na pecuária, na avicultura, etc., é prevenir, impedir a entrada dos agentes de doença e sua ulterior disseminação.
A eventual prescrição preventiva e curativa de medicamentos em aquacultura, como em toda a produção animal, é uma prerrogativa do médico veterinário especialista, cuja ética profissional o obriga a respeitar o bem-estar animal, a saúde pública e o meio ambiente.
A utilização de outros produtos químicos, potencialmente tóxicos quer para os peixes, como para o consumidor e meio ambiente, tem de obedecer também às estritas regras descritas para os medicamentos. É o caso de alguns pesticidas organofosforados, usados em aerossóis, na luta contra parasitas externos, cujo poder residual na água e sedimentos é mínimo, ou mesmo, nulo e também não se acumula nos peixes, i.é, sem afectar o consumidor. Não se confunda os citados organofosforados, biodegradáveis, com os organoclorados usados em agricultura que têm persistente e prolongado poder residual no meio ambiente e nos organismos vivos.
Estas regras podem ser postergadas por gente sem escrúpulos o que demonstra a importância vital da vigilância permanente do funcionamento dos estabelecimentos de aquacultura, por parte das Autoridades Sanitária Animal Nacional (o Serviço Veterinário) e Comunitária, em conjunto com a da Protecção do Meio Ambiente e dos Recursos Vivos Aquáticos.
A Noruega, o maior produtor mundial de salmão atlântico de cultura, país reconhecidamente civilizado, tem montada toda a estrutura competente atrás referida e não facilita em serviço, sob pena de ver ruir toda a sua gigantesca indústria salmonícola.
*Jaime Eduardo de Souza e Menezes, médico-veterinário perito em Ictiopatologia e Piscicultura, ex-investigador e dirigente do INIP/IPIMAR, professor universitário convidado econsultor da FAO e da CEE/EU, é um dos associados mais antigos da OTC tendo exercido funções nos seus órgãos sociais, durante vários anos.