“Precariedade na ciência: uma realidade que Governo e Reitores não podem ignorar”
Na segunda sessão da “Convenção Nacional Ensino Superior 2030”, agendada para 15 do corrente mês de Março, no Auditório Renato Araújo, na Reitoria da Universidade de Aveiro, estarão em foco, segundo os organizadores, “os desafios do Ensino Superior nas áreas da Investigação, Ciência e Inovação até 2030”. A primeira sessão que teve lugar em Lisboa, a 7 de Janeiro último, terá lançado, na esperançosa formulação dada a público “os primeiros pontos para a definição de uma agenda política em torno do aumento da qualificação dos portugueses” [*]. Na segunda sessão está prevista a intervenção de um leque variado de oradores, de diversas filiações e, presume-se, com abordagens distintas da problemática em causa. Na abertura ouvir-se-á o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (““Não tenho dúvida nenhuma” de que há “pleno emprego” entre os doutorados”, Público, 1 de Fevereiro de 2019); ao fim da manhã no painel de debate do tópico “A Investigação ao serviço da comunidade” intervirá o conceituado Professor e Investigador Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra, Prémio Rómulo de Carvalho de 2006 (“Um ministério falhado”, Público, 7 de Março de 2019). Sem excessiva ingenuidade, há pois que esperar debates animados.
A iniciativa da Convenção é atribuída ao Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) fonte directa ou indirecta de alguns comentários inusitados sobre o lugar do Investigador nas Instituições de Ensino Superior. Numa espécie de “bolha” ou mundo à parte, em que do alto inacessível das suas alturas, não se avista a realidade complexa do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, algumas personalidades influentes agitam a ideia do fim da Carreira de Investigação Científica, por desnecessária. E há quem entenda que “a investigação não é uma actividade permanente, é efémera por definição” (in Novo reitor de Coimbra: “Temos uma rede de ensino superior desfasada da realidade nacional”, Público, 27 de Fevereiro de 2019). Efémera, como a vida humana? “Precários” somos todos afinal. Como o senhor ministro um dia, com particular lucidez, considerou ser. Assim afastada essa estranha exigência de pretender ter direito a um lugar permanente, custará a entender a insistência de muitos, reincidentes no propósito de alcançar uma vida profissional estável. Há-os todavia que assim entendem e em crescente número. Daí a importância de ler atentamente, divulgar, e apoiar, “ a bem da Nação”, como se dizia no Estado Velho, a “Carta aberta” lançada pela plataforma “Precários do Estado”, em conjunto com outras associações e grupos de investigadores, gestores e comunicadores de ciência, de que aqui damos conta.
15 de Março de 2019
[*] https://www.cnensinosuperior.pt/2019/02/04/primeiras-conclusoes-da-convencao-nacional-do-ensino-superior-definem-agenda-politica-para-aumentar-a-qualificacao/