Declaração da FMTC de apoio à criação de uma Europa livre de Armas Nucleares
A FMTC saúda e adere à iniciativa tomada por um grupo de activistas amantes da paz e por ONGs que compreendem a necessidade de alertar os nossos concidadãos para a ameaça iminente de um conflito nuclear que põe em risco a vida no planeta. As tendências actuais de desenvolvimento dos equilíbrios geopolíticos não são de bom augúrio para um futuro melhor. Os ponteiros do Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock), um símbolo que traduz a possibilidade de uma catástrofe global provocada pelo homem, nunca esteve no passado tão perto como hoje da “meia-noite”. Com efeito, desde o fim da chamada “guerra fria” em 1991, quando os ponteiros do relógio foram colocados a 17 minutos da “meia-noite”, apenas uma única vez foram atrasados, e, então, apenas 1 minuto. Foi em 2010, na sequência da assinatura, pelos Estados Unidos e pela Federação Russa do Novo Tratado START (Strategic Arms Reduction Treaty). Desde então os ponteiros do relógio simbólico têm-se constantemente aproximado da meia-noite, e estão hoje apenas a uns escassos 100 segundos de distância.
Apesar de nos dias de hoje a guerra nuclear e as alterações climáticas serem geralmente consideradas como as principais ameaças à sobrevivência da nossa espécie sobre a Terra, o aparecimento de novas tecnologias desestabilizadoras em vários domínios, como a inteligência artificial, o espaço, as tecnologias hipersónicas e a biologia, está a contribuir para uma perigosa e multifacetada instabilidade global. Na verdade o mundo enfrenta uma ameaça crescente da guerra de informação e outras tecnologias disruptivas.
Quanto às armas nucleares a situação tem vindo continuamente a agravar-se na sequência da denúncia pelos Estados Unidos, em 2002, do Tratado sobre Mísseis Antibalísticos (ABM Treaty) e do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF Treaty), em 2 de Agosto de 2019. O único tratado de controlo e redução de armas nucleares que à data de hoje permanece em vigor é o Novo Tratado START, que expirará em 21 de Fevereiro de 2021, a menos que os signatários — EUA e Rússia — concordem em prolongá-lo por mais cinco anos, como está previsto no Tratado. Actualmente parece altamente duvidoso que se consiga este entendimento.
É portanto imperioso apelar à mobilização de todas as mulheres e homens cujo futuro está em jogo, contra as forças belicistas que, sob qualquer disfarce, controlam os poderes estabelecidos, independentemente de onde se encontram sediadas ou de quem representam.
A FMTC tem uma longa tradição de apoiar o envolvimento dos trabalhadores científicos e das suas associações na defesa da Paz, independentemente da sua filiação na FMTC. Nos anos que se seguiram à segunda guerra mundial, foi determinante a acção de esclarecimento levada a cabo por um número significativo de cientistas eminentes, onde se incluía o primeiro presidente da FMTC, Frédéric Joliot-Curie, sobre o poder destruidor e as consequências do uso de armas nucleares como meio de guerra.
O papel dos trabalhadores científicos teve e continua a ter hoje particular importância na promoção duma consciência clara dos perigos associados ao reforço e sofisticação dos arsenais nucleares, através duma interacção diligente e inteligente com o público em geral.
Como sublinha num editorial recente a revista Nature, ao chamar os investigadores “a libertar o mundo de armas nucleares”, deve reconhecer-se como uma tarefa urgente a do estabelecimento de uma rede global de investigadores especializados em diferentes matérias da ciência nuclear e da tecnologia. Uma tal rede pode desempenhar um papel consultivo junto de governos signatários do Tratado de Proibição de Armas Nucleares (Treaty on the Prohibition of Nuclear Weapons).
No que diz respeito à Europa o estacionamento de armas nucleares e de meios de lançamento deveria ser proibido. Não só não garantem a segurança dos cidadãos europeus como, ao invés, aumentam riscos que não estão preparados para enfrentar, ao baixar o chamado patamar nuclear (nuclear threshold). No domínio nuclear, um dos aspectos da actual corrida aos armamentos, é o da modernização dos explosivos e dos correspondentes meios ou vectores de lançamento. Está em curso o projecto e ensaio de dispositivos de dimensões cada vez mais reduzidas e de mais difícil detecção assim como de meios de lançamento hipersónicos.
A FMTC apoia o apelo ao fim da modernização de todas as armas nucleares e dos seus vectores de lançamento; urge que os governos europeus não-signatários do Tratado de Proibição de Armas Nucleares reconsiderem a sua posição e adoptem, com urgência, o Tratado. A Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos apela a todas as organizações Europeias nela filiadas a fazer campanha por uma Europa livre do nuclear e pela abolição das armas nucleares em todo o mundo.
O Secretariado Internacional da FMTC
11 de Setembro de 2020
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Nota OTC:
Os Estados Unidos dispõem de um número estimado de 150 bombas de gravidade termonucleares B-61, em posições avançadas, em seis bases da NATO, em cinco países europeus: Aviano e Ghedi, na Itália; Büchel, na Alemanha; Incirlik, na Turquia; Kleine Brogel, na Bélgica; e Volkel, na Holanda. As marcas vermelhas que se vêm na imagem, mostram, aproximadamente, os locais onde as bombas nucleares estão armazenadas.