O INADIÁVEL COMBATE À EMERGÊNCIA CLIMÁTICA EM TRIBUNAL
Sobre a intervenção policial na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Conforme foi largamente divulgado pela comunicação social, na noite da passada sexta-feira, 11 de Novembro, quatro estudantes que se encontravam no interior de instalações da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa foram detidos pela Polícia de Segurança Pública. Os quatro jovens detidos faziam parte de um grupo de activistas estudantis que se manifestavam no interior da Faculdade desde a segunda-feira anterior, numa acção enquadrada no amplo movimento estudantil, simultaneamente de protesto e de proposta, que radica na tomada de consciência da gravidade da crise climática que estamos a viver. De protesto, pela inacção dos poderes político e económicos que, ano após ano, se mostram incapazes de pôr em prática medidas eficazes de combate à emergência climática, tolhidos por interesses que impedem a indispensável convergência de esforços que a situação exige. De proposta, também, pois a movimentação a que se assiste aponta com especial insistência para a necessidade de abandonar tão depressa quanto possível o recurso à utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia. Seguir esse caminho não é fácil, mas ignorá-lo é desastroso.
Na mensagem * que dirigiu aos participantes no encerramento da recente Conferência das Partes sobre o Clima, que teve lugar em Sharm El Sheik, no Egipto — a vigésima sétima da História — António Guterres, Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, lamentou que a imperiosa necessidade de reduzir drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa não tivesse sido abordada — espantemo-nos! E se não foi abordada também não o foi a forma de lá chegar. Na mesma mensagem, o Secretário-Geral disse também, citamos “(…) justiça e ambição requerem a voz essencial da sociedade civil”. E disse mais: “A fonte de energia mais vital do mundo é o poder das pessoas. É por isso que é tão importante entender a dimensão dos direitos humanos da acção climática. Os defensores do clima – liderados pela voz moral dos jovens – mantiveram a agenda em andamento nos dias mais sombrios. Eles devem ser protegidos.
A todos eles, digo que compartilhamos a sua frustração”.
E terminou; “mas precisamos de vós agora mais do que nunca”.
A “voz moral dos jovens” manifesta-se em Portugal como em muitas outras partes do mundo. E é inteiramente compreensível que ela se faça ouvir dentro, e de dentro para fora, da comunidade estudantil, da Escola, da comunidade académica. A OTC que repetidamente sublinha a importância da responsabilidade social dos trabalhadores científicos e insiste em valorizar o seu papel no esclarecimento da opinião pública, a importância de alertar os nossos concidadãos para os perigos e as ameaças que o rumo actual da civilização, tornado possível pelos progressos da ciência e da técnica, finalmente, comporta, encaramos as movimentações estudantis a que assistimos como um sinal de esperança. “A fonte de energia mais vital do mundo é o poder das pessoas” disse António Guterres. Os rebeldes que de forma pacífica, ordeira e imaginativa, se manifestam e estão a fazê-lo em defesa da vida, do seu futuro, do futuro de todos nós, merecem respeito, apoio e compreensão. Não a repressão promovida por quem não se mostra capaz de correctamente ordenar os valores que estão em jogo. E chama a polícia.
A Direcção
2 de Dezembro de 2022
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* https://media.un.org/en/asset/k12/k12p31t118