FMTC: sobre o CERN

Sobre a decisão do Conselho do CERN de pôr fim aos acordos de cooperação internacional com a Federação Russa e a República da Bielorrússia e à cooperação futura do CERN com o Joint Institute for Nuclear Research (JINR)

A Federação Mundial dos trabalhadores científicos (FMTC) foi confrontada com a decisão do Conselho do Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) de rescindir os acordos de cooperação internacional com a Federação Russa e a República da Bielorrússia, e pôr fim à futura cooperação do CERN com o Joint Institute for Nuclear Research (JINR) *. Esta decisão foi precedida da suspensão efectiva de todas as trocas de fundos, de equipamentos e pessoal em ambos os sentidos, com a Rússia e a Bielorrússia e o Joint Institute for Nuclear Research.

Estas medidas restritivas afectam cada membro individual das comunidades científicas dos países alvo. Independentemente da sua filiação ou da sua posição, em todos os aspectos, os trabalhadores científicos envolvidos em programas ou projectos de investigação em cooperação e necessitando de acesso às instalações do CERN, não poderão prosseguir os seus trabalhos.

É interessante notar que, embora a Federação Russa só tenha estatuto de observador no CERN — como os Estados Unidos, o Japão ou a União Europeia — cerca de um milhar de investigadores trabalha regularmente no Centro, número próximo de 10% do conjunto do pessoal investigador. Assim, as duas partes serão penalizadas desnecessariamente e sofrerão com a decisão do Conselho.

Por último, mas não menos importante: enquanto a Rússia, com o estatuto de observador, não é membro do Conselho do CERN, o Estado de Israel, responsável por uma política agressiva de décadas contra o povo palestino e o seu Estado — reconhecido pela ONU como Estado observador não membro – tem assento naquele Conselho de 23 membros, e um cientista israelita aí ocupa o cargo de presidente desde 2021. É, pois, evidente que o CERN tem na prática uma política de dois pesos e duas medidas.

Uma constante nos três quartos de século de história da nossa Federação foi o comprometimento em manter o diálogo e a cooperação entre cientistas de países com culturas e regimes políticos diferentes. Assim foi durante a guerra fria, e tal reveste-se de importância crucial na situação actual de instabilidade mundial marcada precisamente por uma sucessão de acontecimentos que conduziram à trágica guerra na Ucrânia. Neste contexto, a FMTC está preocupada com o processo de isolamento de cientistas e intelectuais russos e bielorussos, levando à deterioração das relações científicas e culturais, factor de paz. A comunicação, o intercambio e a cooperação devem ser mantidos a todo o custo, a nível mundial. Opondo-se a qualquer forma de sanções que afectam a vida e o trabalho dos trabalhadores científicos, a FMTC condena firmemente a decisão do Conselho do CERN descrita acima.

O Secretariado Internacional da FMTC, em 3 de Outubro de 2022

Tradução Elisabete Nunes-Rev. Frederico C

* Nota OTC: o JINR — Instituto Comum de Investigação Nuclear é um centro de pesquisa internacional de física nuclear localizado em Dubna, na Rússia, a 10 km de Moscovo. Foi criado em 26 de Março de 1956 por dois institutos da Academia das Ciências da Rússia.