Declaração sobre os Jovens Investigadores – Évora 2023

Declaração sobre os Jovens Investigadores
Évora, Julho de 2023

Os jovens investigadores frequentemente enfrentam obstáculos significativos nas suas trajectórias profissionais, apesar da sua valiosa contribuição para fazer avançar o conhecimento e impulsionar a inovação em diversos sectores. Durante a 94ª Reunião do Conselho Executivo da FMTC em Évora, Portugal, realizada de 3 a 7 de Julho de 2023, esse problema foi extensivamente discutido, destacando a necessidade urgente de proporcionar um sólido apoio a esses cientistas. Um tal apoio deve garantir o acesso a carreiras estáveis e gratificantes, ao mesmo tempo protegendo os seus direitos fundamentais laborais e sociais.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos jovens investigadores é a falta de contractos de trabalho permanentes. Em vez disso, frequentemente, dependem de bolsas de investigação que podem não corresponder às funções que desempenham. Além disso, essas bolsas frequentemente contêm cláusulas de exclusividade, restringindo a capacidade de procurar outras oportunidades de emprego. Nos casos em que contractos são oferecidos a investigadores no início das suas carreiras, eles tendem a ser por tempo determinado, inadequadamente remunerados e sobrecarregados com expectativas de produtividade muito elevadas. Isso cria um ambiente de imensa pressão, onde se espera que os investigadores entreguem resultados de alto nível apesar de condições de trabalho medíocres. Para promover a pesquisa sustentável e reter jovens talentos, é imperativo oferecer contractos estáveis e de longo prazo.
Essas exigentes condições de trabalho, combinadas com a cultura hiperprodutiva prevalecente em muitas instituições, têm sérias repercussões na saúde mental dos jovens investigadores. Este problema, frequentemente negligenciado, levou a inúmeros casos de esgotamento entre os trabalhadores científicos, afectando as suas vidas pessoais e profissionais, às vezes de maneira irreversível.
Além disso, investigadores com contractos curtos e instáveis frequentemente carecem de apoio institucional ao lidar com diversos problemas no local de trabalho, incluindo situações de assédio. Investigadores em início de carreira e bolseiros, frequentemente são vítimas de assédio moral, ético, emocional e sexual, sem recursos adequados – quer legais quer psicológicos – para denunciar e defender-se contra tal conduta. Infelizmente, investigadores precários raramente denunciam o assédio devido ao receio de colocar em risco os seus contractos.
Estes são problemas generalizados a todo o mundo, com exemplos evidentes em todos os continentes. A FMTC, profundamente comprometida na correcção de tais situações, declara o seguinte:

  • Bolsas e subsídios de todos os tipos devem ser substituídos por contractos de trabalho juridicamente válidos que dêem aos jovens investigadores acesso a direitos de saúde e a segurança social, protecção legal e liberdade de sindicalização. Tais contractos devem incluir aumentos regulares de rendimentos e oportunidades para progredir na carreira.
  • Os responsáveis pela tomada de decisões devem dar prioridade ao financiamento da investigação, reconhecendo a sua importância para a sociedade e para o desenvolvimento económico em geral. Deve ser dado financiamento adequado para garantir salários dignos e condições de trabalho para os investigadores.
  • As instituições devem tomar as seguintes medidas: i) cultivar ambientes de trabalho inclusivos e saudáveis; ii) oferecer igualdade de oportunidades para os investigadores progredirem nas suas carreiras com acesso aos recursos necessários; iii) estabelecer sistemas robustos para prevenir e lidar com diversas formas de assédio, garantindo que os investigadores tenham o apoio de que necessitam; iv) promover redes de pares, oferecer serviços de aconselhamento e implementar programas de orientação para prevenir e tratar possíveis problemas de saúde mental.

A profissão de investigador é um pilar do desenvolvimento social, económico e cultural. Portanto, a deterioração das suas condições humanas e materiais, bem como o financiamento inadequado e a profunda falta de respeito pelos investigadores, deve cessar. Uma política global para abordar essas preocupações é urgentemente necessária para aliviar as dificuldades enfrentadas pelos jovens investigadores.
A FMTC reafirma o compromisso de lutar pelos direitos dos jovens investigadores e dos trabalhadores científicos em geral. Insta os governos e as instituições a aumentar os investimentos na investigação e a torná-la uma prioridade nacional em todos os países, em todos os continentes, encorajando o envolvimento do publico e a interacção entre a sociedade civil e o mundo da investigação científica.

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Artigo na página institucional da FMTS-WFSW: https://fmts-wfsw.org/2023/10/declaration-young-researchers-evora-2023/?lang=en. Este artigo contém um documento PDF em quatro línguas: EN, FR, SP e PT.