Declaração da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos
Médio Oriente, Gaza: a urgência absoluta da Paz
Após mais de quatro meses de uma guerra dramática e devastadora em Gaza, que causou, até à data, a morte a mais de 30 000 pessoas, principalmente civis — 1200 israelitas e mais de 29 000 palestinianos — destruiu mais de 80% do seu tecido urbano incluindo hospitais, escolas, universidades, edifícios das Nações Unidas, locais de culto e locais de património cultural (alguns classificados como Património Mundial da UNESCO), e forçou quase 2 milhões dos seus habitantes a abandonar as suas casas, o impasse permanece total. O desastre humanitário cresce dia a dia diante dos olhos da “comunidade internacional”. Uma nova etapa trágica está iminente: o governo de Israel quer empurrar os 2 milhões de habitantes de Gaza para o exílio forçado, a fim de avançar para a criação de um “grande Israel”.
Além disso, existem riscos crescentes de extensão das hostilidades ao Líbano, à Síria, ao Iraque ou ao Iémen e ao envolvimento directo ou indirecto de potências militares fora da região, incluindo, em primeiro lugar, os Estados Unidos, cujo orçamento militar por si só corresponde a quase metade dos gastos militares mundiais.
Uma guerra cujos principais perdedores seriam as populações civis que veriam, além de perdas humanas incomensuráveis, o declínio do seu nível de vida e que sofreriam todo o peso da deterioração das condições ambientais e do agravamento das alterações climáticas que daí resultaria.
As manifestações por um cessar-fogo imediato continuam em muitas cidades por todo o mundo, incluindo no próprio Israel, onde a população contesta cada vez mais o governo de Netanyahu. Mas as vozes da paz são aí reprimidas, inclusive no mundo académico, onde colegas e estudantes são silenciados ou perseguidos. A FMTC apoia estas posições corajosas.
No caso da guerra em curso em Gaza, e do conflito israelo-palestino em geral, a FMTC apela à cessação imediata de todas as operações militares, para protecção das populações contra “o grave risco de genocídio”. Estes são os termos do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ). A paz nesta região do mundo não pode ser obtida senão pela justiça e a segurança, ou seja, pelo fim da colonização sofrida pelo povo da Palestina e da aplicação, por todas as partes envolvidas, das resoluções das Nações. Unidas, incluindo a resolução 242, de 22 de Novembro de 1967.
A decisão tomada pela maioria dos 17 juízes do TIJ de Haia é vinculativa. Afirma que Israel deve tomar “todas as medidas ao seu alcance para prevenir e punir o incitamento directo e público à prática de genocídio”. A decisão é colocada sob a responsabilidade da comunidade internacional.
Esta decisão e a acção da África do Sul junto do TIJ, são históricas: ainda que as antigas potências coloniais continuem a procurar preservar a sua influência, estes dois factos são testemunho de um mundo onde as cartas são redistribuídas e novos países, particularmente do Sul Global, surgem no centro do palco. O mundo bipolar herdado da Guerra Fria está a mudar. Por isso, esperamos que as condições globais permitam à ONU forçar efectivamente a criação de um verdadeiro Estado Palestino ao lado do Estado de Israel, única solução para uma segurança e paz duradouras.
É urgente trazer a primeiro plano a nossa concepção e a nossa prática de relações humanas e de relações internacionais baseadas no diálogo e na cooperação visando objectivos comuns. O mundo científico, com a sua longa tradição nesse sentido, pode e deve situar-se na vanguarda.
FMTC, Paris, 19 de Fevereiro de 2024
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Versão em Francês e em Inglês na página institucional da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos.
FR: https://fmts-wfsw.org/2024/02/moyen-orient-gaza-lurgence-absolue-de-la-paix/
EN: https://fmts-wfsw.org/2024/02/middle-east-gaza-peace-is-a-matter-of-the-utmost-urgency/?lang=en.