
A floresta em Portugal – Contradições e debilidades
Intervenção convidada apresentada no Seminário da Confederação de Quadros Técnicos e Científicos “INVESTIR NO CONHECIMENTO PARA SAIR DA CRISE. O PAPEL DOS TÉCNICOS E TRABALHADORES EM CIÊNCIA” (26 de Outubro de 2013)
Amélia Palma*
Ouve-se dizer frequentemente que Portugal é um país de florestas e esta afirmação tem fundamento se atentarmos, por exemplo, na baixa fertilidade dos nossos solos e na percentagem de território continental com uso florestal (35,4% em 2010).
Seria de esperar que esta realidade encontrasse correspondência nas políticas e no investimento dedicado à floresta. No entanto, tal não se verifica. Entre 1990 e 2012 arderam mais de 2,5 milhões de hectares de floresta, e, só na última época de incêndios arderam 120 000 ha, enquanto continua a gastar-se quatro vezes mais no combate aos fogos do que na prevenção; a implementação das ZIFs, Zonas de Intervenção Florestal, que poderia possibilitar, em vastas áreas do território uma gestão activa da floresta, encontra-se praticamente parada. Enquanto isto, assiste-se a organizações e reorganizações sucessivas do organismo com responsabilidade sobre a floresta, sendo até difícil ao cidadão comum acompanhar o ritmo das mudanças.
©Clara Pinto
Segundo dados da última actualização do Inventário Florestal Nacional, o eucalipto (dominado pela espécie Eucalyptus globulus) é já a primeira espécie florestal do Continente em área ocupada (812 mil ha), o sobreiro a segunda (737 mil ha) e o pinheiro‐bravo a terceira (714 mil ha). A área total ocupada por este último diminui 263 mil ha entre 1995 e 2010. A maior parte desta área transformou‐se em “matos e pastagens” (165 mil ha) e 70 000 em povoamentos de eucalipto.
Com baixíssimas perspectivas de emprego, a profissão de engenheiro florestal pode mesmo considerar-se em vias de extinção, com o número de estudantes candidatos a esta especialidade a diminuir, no corrente ano lectivo, para dois no Instituto Superior de Agronomia e apenas um na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Embora exista um conjunto de documentos de orientação relativos à floresta (Estratégia Nacional para as Florestas, por exemplo) bem elaborados, também existem, em termos legislativos, ameaças à floresta e ao ordenamento do território. São disso exemplo a nova Lei das arborizações e rearborizações, que desregula as condicionantes que existiam para as plantações de rápido crescimento e o projecto de lei que poderá permitir o corte de sobreiros não integrados em povoamentos em caso de ausência de resposta atempada dos serviços oficiais.
O subfinanciamento sistemático da investigação e o seu padrão pontual e desgarrado, procurando soluções imediatistas para problemas graves da floresta (caso do nemátode da madeira do pinheiro) que só poderão ser resolvidos com intervenções de fundo e a longo prazo, bem como a sangria de quadros qualificados da administração pública, com forte incidência no grupo profissional da investigação científica, nos últimos anos, constituem debilidades adicionais da floresta portuguesa que urge resolver.
*Amélia Palma, Mestre em produção vegetal, dedica-se à investigação em Ciências Florestais no INIAV-Instituto de Investigação Agrária e Veterinária, na Quinta do Marquês, em Oeiras,