Dia Nacional da Cultura Científica

 
24 de Novembro
DIA NACIONAL DA CULTURA CIENTÍFICA


Em 24 de Novembro de 1906 nascia, em Lisboa, Rómulo Vasco da Gama Carvalho a quem José Mariano Gago se referiu, em entrevista publicada no nº14 da revista “Ler” do “Círculo de Leitores”, como a pessoa que “provavelmente mais importância teve na divulgação científica” nas últimas décadas, “o célebre autor dos dois volumes da Física para o Povo”. Em 1996 é instituído o dia 24 de Novembro como Dia Nacional da Cultura Científica.
 
“A Descoberta do Mundo Físico”
“A ciência que os homens constroem”
 
Sempre, em todos os tempos, existiram pessoas interessadas em observar a Natureza. Não nos referimos às pessoas que olham para a Natureza porque há nela flores bonitas, aves de penas coloridas, penedias soberbas de grandes alturas e ribeiros alegres que saltam entre seixos. Referimo-nos às pessoas que observam a Natureza com o desejo de quererem saber o motivo por que certas coisas acontecem nela.
Por exemplo: por que é que chove? De onde vem a água da chuva? Por que é que o Sol nasce sempre à direita de quem está voltado para o norte e se põe sempre à esquerda? Por onde é que anda o Sol durante a noite? E por que é que há noites? E por que é que umas vezes há frio e outras vezes há calor? E os relâmpagos, o que são? Por que é que os relâmpagos são acompanhados de trovões, que fazem tanto barulho? E por que é esse barulho? E por que é que o trovão se ouve, às vezes, quase ao mesmo tempo que se vê o relâmpago, e outras vezes só passado algum tempo?
Há pessoas que fazem perguntas destas sem se importarem muito com as respostas, mas há outras que não sossegam enquanto não arranjarem respostas que as satisfaçam.
Assim, em todos os tempos houve homens que observaram a Natureza e que, pouco a pouco, deram resposta às suas interrogações. O que então foram descobrindo comunicaram aos seus filhos, e os filhos aos netos, e os netos aos bisnetos, ou por boca ou por escrito, e assim pelos tempos fora. Cada nova geração de homens que aparece no Mundo tem à sua disposição tudo quanto os homens antes deles pensaram e descobriram. Podem até os novos repensar o que os seus antepassados já tinham pensado e acharem que estavam erradas as respostas que eles deram. Então procurarão dar respostas melhores, e assim sucessivamente.
O conjunto de conhecimentos que os homens possuem em determinada época constitui a ciência dessa época.
 
A ciência e a técnica
A vida dos primeiros homens na Terra foi muito difícil e ate custa a compreender como sobreviveram a tantos perigos a que estiveram sujeitos. Toda a Natureza se apresentava como sua inimiga: o Sol que queima, a neve que enregela, os ventos que derrubam, as trovoadas que metem medo, os raios que incendeiam, as chuvas que inundam, os animais que atacam. A tudo os homens resistiram, inventando as suas primeiras defesas: os abrigos, os trajos, os machados, as flechas; e inventando construções que lhes facilitaram a vida: os carros de rodas, as pirogas e as canoas, os moínhos de vento, as azenhas dos cursos de água. Inventar as rodas dos carros ou as velas dos moínhos exigiu a meditação de muitas gerações de homens que, para isso, teriam observado atentamente e realizado grande número de experiências; são duas das mais notáveis descobertas da Humanidade, embora hoje, ao pé de tudo quanto temos, nos pareçam de pouco valor. A observação da Natureza, de tudo quanta os rodeava, foi-lhes, dia a dia, aumentando o saber, o qual depois aplicaram em construções uteis.
O saber é a ciência; a aplicação da ciência é a técnica. Descobrir, por exemplo, que uma pedra de grandes dimensões se desloca melhor quando colocada sobre paus roliços do que directamente sobre o solo, e perceber a razão disso, é ciência; construir um carro de rodas em que se aproveite esse conhecimento, é técnica.
No nosso tempo a ciência e a técnica estão muito avançadas, e ate há pessoas, homens e mulheres, cuja ocupação é a de fazerem descobertas. São os investigadores científicos e os investigadores técnicos; o seu trabalho profissional é investigar. A sociedade precisa muito dessas pessoas porque delas depende grande parte do nosso bem-estar. Enquanto os primeiros homens ficavam aterrorizados com os relâmpagos e os raios, imaginando deuses, zangados com eles, que os castigavam dessa maneira, nós colocamos pára-raios nos edifícios e para lá dirigimos os raios, à nossa ordem. Enquanto os primeiros homens estavam completamente a mercê das chuvas para o desenvolvimento das suas sementeiras e plantações, nós sabemos montar sistemas de irrigação das terras, e até, em certas condições, somos capazes de fazer a própria chuva. Tudo isso foram consequência dos progressos da ciência e da técnica.”
 
Excerto de “A Descoberta do Mundo Físico”. Rómulo de Carvalho, Cadernos de Iniciação Científica nº1, ed.Sá da Costa, 1ª edição 1979