
OS PONTEIROS DO SIMBÓLICO “RELÓGIO DO JUÍZO FINAL” — O “DOOMSDAY CLOCK” DO BOLETIM DOS CIENTISTAS AMERICANOS — QUE DESDE 1947 ALERTA A HUMANIDADE PARA OS PERIGOS QUE TEM PELA FRENTE, FORAM MANTIDOS A 100 SEGUNDOS DA MEIA-NOITE
Como vem acontecendo desde há muito, anualmente, no mês de Janeiro, a Comissão de Ciência e Segurança do Boletim dos Cientistas Atómicos, apoiada no parecer de um Conselho Científico que inclui treze Prémios Nobel, divulgou no dia passado 27 a sua posição sobre o acerto dos ponteiros do Relógio. A posição dos ponteiros reflecte o grau de gravidade dos perigos e ameaças, mais significativos, que, no entender dos cientistas que integram aquela Comissão, a espécie humana e o globo que habitamos têm nesta altura pela frente. Não houve este ano alteração da posição dos ponteiros que continuam a indicar 100 segundos para a meia-noite como acontecia desde Janeiro de 2020.
Na ocasião, o presidente e director executivo do Boletim dos Cientistas Atómicos, Dr. Rachel Bronson, afirmou:
“Os ponteiros do Relógio do Juízo Final mantêm-se a 100 segundos da meia-noite, tão próximo da meia-noite como se encontrava. A letal e assustadora pandemia COVID-19 surge como um “alerta geral” histórico, claro exemplo de que os governos nacionais e as organizações internacionais não estão preparados para gerir as reais ameaças civilizacionais corporizadas nas armas nucleares e nas alterações climáticas.“
No anúncio público foram expostas as razões da manutenção do nível de alarme traduzido na proximidade da meia-noite, inalterada, da hora do simbólico Relógio, sublinhando-se que os promotores vêm na resposta ineficaz à pandemia que estamos a viver uma prova da impreparação dos governos e instituições públicas para enfrentar sérias ameaças globais.
O comunicado de imprensa distribuído destaca um conjunto de recomendações-chave aprovadas pela Comissão, que respondem à questão: que passos devem ser dados para lidar com a ameaça nuclear, as alterações climáticas e outras ameaças importantes?
Seguem-se as recomendações aprovadas.
- Os presidentes dos EUA e da Rússia podem e devem prorrogar a vigência do Tratado New START pelo maior prazo de tempo possível, de forma a manter aos níveis actuais os dois maiores arsenais nucleares.
- Agora que os Estados Unidos anunciaram que voltarão a aderir ao acordo climático de Paris, devem reforçar o seu compromisso com a descarbonização e implementar políticas que viabilizem o cumprimento desse compromisso.
- Agora que os Estados Unidos voltaram a integrar a Organização Mundial da Saúde, deverão trabalhar com a OMS e outras instituições internacionais para a redução dos riscos biológicos de todos os tipos.
- Os Estados Unidos devem assumir o compromisso de não recorrer em primeiro lugar à arma nuclear e devem persuadir aliados e rivais a concordar em que o “não primeiro uso” é um passo em direcção à segurança e estabilidade.
- É desejável que a Rússia regresse ao Conselho OTAN-Rússia, abrindo caminho a discussões sérias sobre a redução de riscos e como evitar perigos de escalada.
- É desejável que a Coreia do Norte concorde em estabelecer regras e permitir a verificação de uma moratória de testes nucleares e mísseis de longo alcance.
- O Irão e os Estados Unidos poderão, em conjunto, retornar ao cumprimento total do Plano de Acção Global, e o Irão pode concordar com novas e mais amplas conversações sobre segurança no Médio Oriente, restrições aos seus mísseis e outras actividades militares.
- É desejável que a nova administração dos Estados Unidos assuma posições exemplares em organismos públicos de base científica, partindo de conhecimento científico especializado e comprovado; proíba interferências na elaboração ou divulgação de relatórios científicos emanados do poder executivo; use a melhor ciência disponível para informar as decisões políticas; permita que cientistas do governo venham junto do público, envolvendo-o no seu trabalho; providencie recursos financeiros para reconstituir e fortalecer a cooperação científica internacional.
- Os governos, as grandes empresas tecnológicas de comunicação, os especialistas académicos e os meios de comunicação social responsáveis, devem cooperar para encontrar práticas viáveis e éticas de combate à desinformação e informação falsas difundidas na Internet.
No anúncio público do acerto da posição dos ponteiros do “Relógio do Juízo Final” intervieram sete personalidades entre as quais dois convidados notáveis: o japonês Hidehiko Yuzaki, governador de Hiroshima e Ellen Johnson Sirleaf, laureada com o Prémio Nobel da Paz em 2011, que foi a primeira mulher a alcançar a Presidência de um estado africano — a Libéria — e é actualmente co-presidente do Independent Panel for Pandemic Preparedness and Response da OMS.
A sessão, que pode ser acompanhada no vídeo abaixo, teve lugar a distância via Zoom. No final, os membros do painel responderam a perguntas da comunicação social.