COVID-19 E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: UM ALERTA


COVID-19 E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: UM ALERTA

Em Março de 2020, a Europa esteve dois graus mais quente do que a média do período 1981-2010, e algumas regiões da Rússia estiveram até oito graus acima dessa média. Entretanto, os confinamentos parciais ligados à pandemia COVID-19 levaram a uma redução da poluição do ar nas áreas urbanas. Mas é provável que tal não tenha significado a longo prazo, devido à recuperação das actividades económicas. Um ar mais limpo será certamente bom para quem sofre de doenças pulmonares. Os benefícios ambientais podem sentir-se localmente, mas não a nível global onde os efeitos cumulativos da poluição não podem ser revertidos num curto espaço de tempo. Um perigo real é o de que os custos de saúde e a crise económica conduzam a uma diminuição dos investimentos necessários para reduzir a queima de combustíveis fósseis e a libertação de poluentes, que são uma das principais causas das alterações climáticas. No entanto, um problema desafiante pode também representar uma oportunidade. Uma oportunidade, neste caso, para acelerar a inevitável transição para uma sociedade sustentável e justa.
Algumas lições positivas devem ser retiradas da crise sanitária da COVID-19. Por exemplo, é possível para muitos tirar proveito das ferramentas computacionais e de comunicação disponíveis e, assim, minimizar as necessidades diárias de deslocação de um número considerável de trabalhadores. Além disso, os investigadores científicos podem ter uma oportunidade adicional de reforçar uma influência fundamentada e responsável sobre os governos. Isso é de grande relevância, pois as decisões políticas são dominadas principalmente por considerações económicas, enquanto as relacionadas com desastres de natureza biológica ou ambiental são correntemente subestimadas. A pandemia COVID-19 mostrou que tomadas de decisão política correctas devem ter por base pareceres científicos confiáveis.
Estima-se que o aumento de um grau Celsius na temperatura média da atmosfera (na verdade induzindo um aumento maior ao nível do solo) tornará a terra inabitável para mil milhões de seres humanos. Os habitantes da Indonésia, do subcontinente indiano, da África Central e de grandes extensões de terra nas Américas, seriam forçados a migrar para zonas mais afastadas do equador. Assim, os riscos de uma acção tardia podem imaginar-se pensando nas consequências da pandemia COVID 19, seriamente agravadas por atrasos nas medidas de confinamento.
O tremendo impacto de um único vírus, o responsável pela doença COVID-19, com a sua rápida propagação por todo o mundo num curto espaço de tempo, terá consequências assustadoras para todos. Na verdade, estamos a assistir a um enorme esforço da comunidade científica mundial, cuja contribuição é essencial para ter sucesso no controlo da doença. No entanto, a corrida ao lucro das multinacionais e o egoísmo dos países ricos perante esta pandemia, são obstáculos à cooperação internacional e à justiça e fragilizam toda a humanidade na luta contra o vírus.
As mesmas observações desconfortáveis podem ser feitas acerca das alterações climáticas. Mas devemos estar conscientes de que as alterações climáticas uma vez estabelecidas não podem ser invertidas: não se trata de um vírus, mas de uma doença de toda a biosfera. O lento avanço das alterações climáticas tem e terá graves efeitos destrutivos a nível mundial. O papel da ciência e da tecnologia é indispensável para encontrar formas de reduzir os impactos humanos destrutivos na natureza, envolvendo a responsabilidade de toda a comunidade humana, e em primeiro lugar a dos estados-nação mais ricos e mais poderosos. Neste caso, a ciência e a tecnologia são impotentes para evitar algumas das consequências que não podem ser revertidas, tal como não se pode parar uma tempestade ou um terramoto.

A Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos (FMTC) exorta as associações profissionais, partidos políticos, sindicatos e organizações não-governamentais (ONG) a chamar os decisores políticos a envolverem-se urgentemente na promoção e desenvolvimento de iniciativas que visem a transformação de toda a actividade humana num sentido dirigido à sustentabilidade, como única forma de continuar a desfrutar da vida na Terra.

Ver a posição geral da FMTC sobre as alterações climáticas no Apelo de Dakar.
Assine a petição Change.org SAVE THE PLANET BEFORE IT IS TOO LATE!
Ver a declaração da FMTC sobre a pandemia do Coronavirus nos países em desenvolvimento (inglês).