FMTC Abertura da AG de Marraqueche – Apresentação de Jean-Paul Lainé

Jean-Paul Lainé, ao centro, tem à sua esquerda o reitor da Univ. de Marraqueche

 

23ª Assembleia Geral da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos
Exposição Introdutória do
Presidente Jean-Paul Lainé

Marraqueche, 9 de Maio de 2022

Senhor Reitor, Caros Colegas,
Em nome da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos (FMTC), gostaria de agradecer às autoridades políticas e universitárias que nos honram com a sua presença, o acolhimento dado a esta 23ª Assembleia Geral, bem como às nossas outras actividades da semana, em particular o Simpósio que terá lugar amanhã nestas mesmas instalações, simpósio aberto ao público e intitulado “Ciência por quem, para quem, porquê?” mas também os workshops e sessões da AG num hotel próximo da cidade.

Gostaria de agradecer à nossa organização filiada anfitriã, SNESUP e, em particular, aos seus dirigentes nacionais, desde logo o Secretário-Geral, Professor Jamal Sebbani, que organizaram no pormenor esta semana de trabalho, em estreita colaboração com o nosso Secretariado Internacional. Há vários meses que vimos realizando videoconferências com muita regularidade.

Este ano, pelas razões que sabemos, tivemos, como muitas organizações, que organizar uma Assembleia “híbrida” com as desvantagens inerentes: agradeceremos aos amigos da China que aceitaram manter-se acordados até tarde, assim como desculparemos a ausência nos trabalhos matutinos daqueles que permaneceram na América. Felicito-me e desejo agradecer a todos aqueles que participarão, quer presencialmente quer à distância; representam mais de 30 organizações, de 15 países e 4 continentes. Acolhemos aqui também representantes de organizações amigas e participantes individuais. Saudamos também o facto de mais de metade dos membros do Conselho Executivo se encontrarem registados. Apesar das limitações de tempo e dinheiro, apesar do contexto internacional que conhecemos,… e embora as nossas organizações filiadas tenham a sua própria agenda, e estejam assoberbadas pelas exigências da defesa individual e colectiva dos seus membros, que é, no contexto das nossas missões, mais necessária do que nunca, esta  sua presença aqui é para nós um encorajamento.

Introdução

A Assembleia Geral é o nosso congresso, cumpre as mesmas funções: fazer o balanço dos últimos 4 anos, analisar o presente e as  evoluções ocorridas; depois, definir uma orientação e prioridades; depois ainda, eleger uma nova direcção, envolvendo, por um lado, o seu parlamento, a  que chamamos o Conselho Executivo, e, por outro lado, o seu governo: o Secretariado Internacional, animado, em particular, por uma equipa presidencial. Todos munidos de um roteiro.

O meu primeiro objectivo é, portanto, contribuir para o arranque de todo este processo, que decorrerá até quinta-feira à noite, mas, acrescento um segundo objectivo, ao qual darei prioridade na parte introdutória, que é o de nos apresentarmos, dar-nos a conhecer melhor a muitos de vós, nesta sessão inaugural que é aberta ao público, aos colegas, aos trabalhadores científicos daqui, aos estudantes, a vós que sois convidados ou novos delegados.

Apresentação da FMTC

A Federação Mundial de Trabalhadores Científicos (FMTC) é uma organização não governamental internacional, parceira oficial da UNESCO. Foi fundada em 1946, por iniciativa de personalidades científicas de altíssimo nível e de um sindicato britânico ― a Associação Britânica de Trabalhadores Científicos. A existência da FMTC traduz-se antes de mais no apelo a toda a comunidade científica para que se envolva no propósito de colocar a ciência e a tecnologia ao serviço do bem-estar da humanidade.

Em 1946, duas áreas de preocupação convergiram a favor da criação da FMTC: não permitir um novo Hiroshima; colocar a ciência ao serviço do bem-estar.

A Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos (FMTC) é na realidade uma rede de associações profissionais, ONGs e sindicatos que congregam pessoal do sector público e do privado (e não uma federação, terminologia da época da sua criação em 1946, na medida em que as decisões não são vinculativas e resultam de um consenso). Acolhe também personalidades, individualmente. A sua actividade principal – à parte a actividade na UNESCO – reside na activação de grupos de trabalho, ad hoc ou permanentes, cujos domínios de intervenção são, em particular, a Paz, o desarmamento e a cooperação, o desenvolvimento sustentável, clima e energia, as condições do trabalho científico e a situação das investigadoras e dos investigadores. O termo investigador engloba todas as profissões do ensino superior e da investigação, desde o técnico ao director de laboratório.

Retomo a ideia fundadora de oposição à utilização dos avanços do conhecimento para fins militares: uma das suas primeiras intervenções foi a de participar e incentivar os seus filiados a subscrever o “Apelo de Estocolmo”, lançado em 1950, assinado por milhões de pessoas em todo o mundo, o que certamente impediu Truman, o presidente dos Estados Unidos, de recorrer a armas nucleares durante a Guerra da Coreia.

Jean-Paul Lainé, Presidente da FMTC

Especifico que quando falamos de Ciência, queremos dizer todo o conhecimento fundamental e aplicado, tanto das ciências sociais e humanas como das ciências da natureza e das matemáticas.

Uma constante, nos seus três quartos de século de história, foi a de manter o diálogo e a cooperação entre cientistas de países com diferentes culturas e regimes políticos. Foi assim durante a Guerra Fria e hoje reafirmamo-lo num comunicado sobre a guerra na Ucrânia: “A FMTC está preocupada com o processo de isolamento de cientistas e intelectuais da Rússia que leva à degradação das relações científicas e culturais, factores de Paz. A comunicação, os intercâmbios e a cooperação devem ser mantidos a nível mundial”.

O contexto internacional

Desde a nossa precedente Assembleia em Dakar, isto é, em 4 anos, dizer que muita coisa aconteceu, é dizer pouco. Foram acontecimentos, catástrofes, reais ou potenciais, que atingiram milhões de seres humanos ou que os ameaçam. Falo da última pandemia, das ameaças climáticas e ambientais, das guerras que proliferam e se substituem cada vez mais à diplomacia e à negociação. Todos estes dramas não são naturais nem fruto de uma fatalidade: decorrem das actividades e escolhas políticas das sociedades humanas. Não esqueçamos também a fome e a miséria que são agravadas por essas crises.

Tudo isto nos diz particularmente respeito como trabalhadores científicos e como animadores de uma organização, a FMTC, consagrada ao estudo de toda e qualquer questão que implique a relação ciência e sociedade, ou, dito de outra forma, sempre que esteja em causa a nossa responsabilidade social, individual e colectiva, das instituições científicas e da própria ciência. Com efeito, o uso dado à ciência e à tecnologia, as políticas e a orientação da investigação científica, estão envolvidos tanto nas causas como nas soluções das catástrofes citadas.

Detenhamo-nos por um momento nos principais desafios que a qualquer momento podem “explodir” e transformar-se em catástrofe.

O acentuar do recurso à guerra

Não estou a seguir uma ordem hierárquica, mas não posso deixar de colocar em primeiro lugar o crescente recurso à guerra. Tomo de empréstimo as frases seguintes ao nosso grupo de trabalho “Paz, Desarmamento e Cooperação”:

“Ao longo da história, a guerra e todas as formas de violência que a acompanham têm sido uma companheira constante da humanidade. A guerra evoluiu continuamente, mas o ritmo sem precedentes a que o conhecimento científico e as capacidades tecnológicas a ele associadas se desenvolveram nos últimos cem anos – enquanto as mentalidades e as desigualdades nas relações sociais permanecem – transformou radicalmente a natureza das ameaças com que somos confrontados. Escusado será dizer que a mais séria de entre elas é a que decorre da existência, posse e possível utilização de armas nucleares”.

“A recusa e prevenção da guerra é a chave para um futuro sustentável para a humanidade. (…) Só a paz permitirá contribuir para diminuir as desigualdades entre países e dentro de cada país, bem como para responder eficazmente à necessidade urgente de combater as alterações climáticas”.

Como transformar estes círculos viciosos em círculos virtuosos?

O desafio ambiental

O desafio ambiental é imenso e exige medidas imediatas que devem ser tomadas pela e para a humanidade no seu conjunto, ou melhor, para todos, mas, essencialmente, pelas economias desenvolvidas. A desregulação climática, as poluições, o esgotamento de recursos e os atentados aos ecossistemas e à biodiversidade, tudo está já confirmado e está em desenvolvimento, se não mesmo em marcha acelerada. Acabamos de desperdiçar, de perder 10 anos, com desentendimentos, com a revisão em baixa de programas: os próximos anos são anos-chave. É preciso ter a coragem de dizer que as políticas públicas devem prevalecer sobre o mercado e as multinacionais e agir em concordância.

Aqui, como na questão da guerra, é necessário reforçar o papel das Nações Unidas. São precisas políticas concertadas, regulamentos. Em Dakar, lançáramos um grito de alarme, um apelo ao cumprimento dos compromissos assumidos em Paris em 2015; muitos outros o fizeram, mas não basta, é preciso falar mais alto! e todos juntos! Saudemos aqui os Estados que vão no rumo certo como é o caso do país nosso anfitrião.

Riscos sanitários, a pandemia do Covid-19

Diferentes observadores incriminam a demografia humana e o desaparecimento de habitats vitais para a vida selvagem. Outros sublinham os riscos representados pelas pesquisas na área da virologia. É a gestão da pandemia que é, acima de tudo, fonte de ensinamentos. Do lado positivo, está a intervenção pública, o desrespeito da regra neoliberal típica de limitação da dívida, a concertação entre Estados que se impôs; do lado negativo, é a irrupção desordenada de cientistas no universo mediático geradora de mal-entendidos, de desconfiança e até de posições anti-ciência.

Desigualdades gigantescas aprofundam-se

É uma das características mais marcantes do mundo de hoje, das mais imorais e um dos principais obstáculos ao surgimento de um mundo de paz e fraternidade, um mundo no qual não nos veríamos forçados a procurar refúgio, a abandonar os mais idosos, uma cultura, os pratos preferidos. Essas desigualdades dizem respeito a todas as necessidades básicas: a alimentação, a saúde, a educação, o trabalho. E esses elementos de qualidade de vida que são o espaço, o silêncio, a segurança.

O ascenso do espírito identitário de grupo, da xenofobia, da intolerância e do irracional

Tudo o que acabei de descrever é sentido, e até mesmo vivenciado por milhões, milhares de milhões de pessoas que não têm acesso às reflexões, às propostas, que permitem pensar num outro mundo possível. Devemos denunciar o papel negativo dos principais meios de informação e comunicação social que estão nas mãos de oligarquias económicas e/ou políticas; o recurso à emoção em detrimento do pensamento racional e do pensamento crítico. Os poderes económicos e políticos são muitas vezes cúmplices e até mesmo os promotores: as raivas enganam-se no alvo e voltam-se contra os “ainda mais” fracos, os “ainda mais” abandonados.

O crescendo das migrações-refúgio

Não consideramos este fenómeno em si como uma catástrofe. Os humanos sempre se deslocaram e talvez a sua ascensão na escala dos seres vivos do planeta e esse movimento estejam correlacionados. Porém esta migração é apresentada pelos políticos como um perigo e explorada para desviar a atenção da revolta gerada pela sua própria política. Recordemos outra migração, esta incentivada e deixada na sombra: o “brain drain”, a fuga de cérebros, a pilhagem de diplomados pelos países mais desenvolvidos.

A “revolução digital” também não é um mal absoluto, é o melhor exemplo da ambivalência do avanço da ciência e voltarei a isso várias vezes nesta minha exposição. Deu origem a uma transformação profunda nos modos de produção e de troca, mas também na vida quotidiana de todos nós. Trata-se de uma formidável ferramenta de produtividade, de substituição de certas actividades penosas, de facilitação das relações humanas – estamos neste momento a tirar partido dela, aproveitando-a, neste nosso encontro “híbrido” – mas é também um formidável instrumento de guerra, de sobreexploração do homem. A inteligência artificial, o “homem aumentado”, questões de ética e democracia: tudo isso nos preocupa, tudo isso está no cerne da nossa área de intervenção, a relação entre ciência e sociedade, e tudo isso vamos debater no decurso desta semana.

Então, serão o presente e o futuro completamente sombrios? Não, porque ao mesmo tempo se avança “a pequenos passos” no que respeita ao lugar da mulher, ao trabalho infantil, à saúde (cresce a esperança de vida) e mesmo, por exemplo, na educação (o analfabetismo recua). Em todos os casos, o que permitiu avanços foi o movimento social. Todos os meses ou mesmo todas as semanas, povos em todo o mundo descem às ruas, ocupam lugares públicos, não para perseguir ou massacrar uma minoria, mas para exigir serem ouvidos.

O estado da ciência

São os termos ambivalência e contradição que me parecem qualificá-lo. Contradição porque coexistem pólos opostos: a ciência tornou-se uma actividade de “massas” ao nível global com progressos consideráveis ​​em todos os campos, progressos no conhecimento, progressos nas invenções e aplicações que permitiram facilitar o trabalho e a vida em geral, mas ao mesmo tempo, com um impacto tão desigual que chega a ser chocante. Há regiões do mundo onde os pacientes não têm acesso a terapias que são conhecidas, como também parte das populações de países desenvolvidos; há escolas sem electricidade, há pessoas obrigadas a vender um órgão para sobreviver. O desenvolvimento da ciência permitiu tornar inteligível o nosso meio ambiente e ao mesmo tempo tornou o Homem desrespeitoso para com esta Mãe-Terra, como dizem os ameríndios, que não oferece como “abrigo e alimento” mais do que a sua fina crosta. Essa pretensão de dominar o ambiente revela agora toda a sua inconsistência. Consequência dos avanços científicos é também a fabricação e o uso de armas cada vez mais devastadoras. O exemplo actual dado pela luta contra o vírus é particularmente rico em lições sobre esta ambivalência, como vimos atrás.

A ciência e a tecnologia tornaram-se factores essenciais na competição económica global. A dureza dessa competição, a corrida pelo lucro, leva à criação de novos mercados e, logo, por exemplo, a novos consumos usando os recursos da inteligência artificial e da “big data” para influenciar o comportamento dos consumidores. Sob os termos excelência, inovação, é a redução da criação de conhecimento a esse objectivo que está em marcha. O académico que sou sente-se profundamente chocado ao ver o declínio da investigação fundamental cujo objectivo é o conhecimento e a compreensão do mundo, do universo ao infinitamente pequeno, a génese de novos paradigmas que permitem saltos qualitativos no desenvolvimento da ciência. Financiamento, gestão direccionada, estatutos das instituições, em particular das universidades, mas também do pessoal, competição e rankings como no mundo do futebol-negócio, hierarquias reforçadas, individualização dos cursos, precariedade generalizada, tudo vai no sentido do recuo da verdadeira qualidade, da verdadeira excelência e, infelizmente, também da solidariedade no seio da comunidade científica. Explicito o porquê do declínio da qualidade: encontrei a exposição que fiz em Barcelona quando convidado a falar sobre excelência pela Associação de Investigadores da qual o nosso amigo, professor Elies Molins, é membro; e disse o seguinte: “a precariedade gera trabalho feito muito à pressa, quando a investigação exige tempo e reflexão; promove o conformismo e um aprofundamento superficial das questões e pode até levar à fraude”.

Esta evolução que descrevo está, em particular, a acontecer na Europa, uma Europa que também aqui se alinha com o modelo anglo-saxónico, que abandona o seu modelo de serviço público nacional, mais ou menos conforme a resistência de docentes e estudantes, eles próprios fragilizados porque se tornaram clientes. Isso leva à desigualdade entre diplomas, cursos, salários do pessoal, e afasta-nos da igualdade de acesso, independentemente de classe social ou região. Concentrei-me nestes desenvolvimentos porque é o pano de fundo da actividade das nossas organizações filiadas e, a fortiori, da nossa.

A actividade da FMTC, o seu papel, a sua evolução

A pergunta que nos convido a fazer e a tentar responder, é a seguinte: neste contexto, estes desafios para a humanidade que são outros tantos desafios para a ciência, por um lado, e essas visões redutoras e instrumentalizadas da ciência, por outro, quais são a utilidade e o campo prioritário de acção da FMTC?

Quais são as nossas actividades mais comuns?

  • O debate alargado às nossas listas de difusão para chegar a declarações oficiais sobre acontecimentos significativos que envolvam a ciência;
  • O estabelecimento de planos de acção em assuntos considerados, pela AG ou o CE, de importância maior, e envolvendo diferentes associações filiadas, bem como um dos nossos grupos de trabalho;
  • Apoio e solidariedade relativamente a sindicatos e associações filiadas que estejam em conflito com autoridades políticas e profissionais;
  • Preocupação, no domínio das nossas relações internas e externas, em responder positivamente a convites para congressos, conferências e seminários;
  • O trabalho na “UNESCO”: com as directorias científicas, com e dentro do comité de ligação UNESCO-ONG, para projectos e realizações concretas. São conferências, acções de formação, Recomendações a serem submetidas aos Estados;
  • Apoio ou participação em campanhas internacionais cujos objectivos se aproximem dos nossos.

Momentos chave da nossa actividade são obviamente as reuniões estatutárias e encontros regulares como as reuniões mensais do Secretariado Internacional e os encontros, em regra presenciais, que são as sessões anuais do Conselho Executivo e, como aqui, a reunião quadrienal da Assembleia Geral.

Quais são os pontos fracos? A nossa capacidade como “influenciadores”― para usar um termo que está na moda ― é desigual, irregular e geralmente insuficiente: o exemplo do lado negativo é o nosso apelo-petição lançado em Dakar, sobre o clima, qualificado como denso, claro e contundente, que muito rapidamente recolheu milhares de assinaturas, todavia distribuídas de forma muito desigual, visivelmente dependente de retransmissores locais, em particular do investimento de pessoas individuais ou activistas de organizações filiadas, e que depois se esfumou. O exemplo positivo é o do nosso papel, a nossa intervenção, no enriquecimento, no destaque, e finalmente na adopção e seguimento das Recomendações da UNESCO, graças ao investimento da nossa “equipa alargada da UNESCO” bem como à nossa função de rede. A UNESCO também nos oferece a oportunidade de nos expressarmos diante dos representantes dos Estados e assim de sermos “influenciadores”. A título de exemplo, leio-vos este extracto da intervenção de André Jaeglé na sessão plenária da última Conferência Geral da UNESCO:

É por isso que a Federação Mundial de Trabalhadores Científicos se dirige, desta tribuna, aos Estados para lhes pedir que empreendam a renegociação dos acordos que fixam as regras de funcionamento dos mercados para que a competição mundial se faça em condições de igualdade social, financeira e ecológica, permitindo assim a cada país enfrentar os tempos que se anunciam da forma mais eficaz possível.”

É certo que os desenvolvimentos que descrevi anteriormente não são favoráveis a um envolvimento e por isso me aproveito do momento para felicitar os jovens que hoje estão entre nós. As nossas organizações filiadas estão ocupadas com a sua própria agenda e mesmo sobrecarregadas. No entanto, não devemos renunciar a apelos de grande alcance: desde Dakar, estamos a preparar, a amadurecer, um novo projecto ― a criação de um fundo para a investigação em África, uma obra em estaleiro em sintonia com todas as ambições que albergamos para o ser humano. Um workshop na quarta-feira será dedicado a isso. Não tenho dúvidas que outros projectos irão germinar e florescer durante esta semana, em particular em torno dos “Objectivos de Desenvolvimento Sustentável” (adoptados pela ONU em Setembro de 2015) que se prendem com a Ciência.

Momento de descontracção
Jean-Paul Lainé e Frederico Carvalho

A nossa FMTC é uma rede muito rica na sua diversidade geográfica e cultural; é uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, entre o Norte e o Sul, em todos os sentidos desses termos. Tem as ferramentas para fazer da função Fórum um ponto forte. As avaliações que fiz sobre os principais desafios de hoje são essencialmente o resultado dos nossos debates, debates longos em que por vezes não é fácil chegar a um consenso, consenso por vezes impossível. Seria muito longo citar as declarações adoptadas ao longo dos 4 anos passados. Insisto num ponto que me é particularmente caro: para construir uma declaração, é necessário um diálogo, que todos procurem compreender, entender a origem do problema e compreender as implicações e os futuros possíveis ― numa palavra, explicar. Podem imagina a minha zanga pelo não-trabalho de muitos jornalistas e principalmente por esta “saída” de um político francês: “explicar já é querer desculpar um pouco”.

Espero que esta apresentação tenha alcançado o seu objectivo que era abrir os debates, estimular uma análise crítica para tornar mais eficaz a nossa FMTC. Não falei das questões de organização, mas devemos trabalhar nisso antes de nos separarmos. De qualquer modo deixo ficar uma ideia evocada no Secretariado. Para reforçar a nossa capacidade como fórum e como influenciador, por que não usarmos mais a técnica da videoconferência para maior aproximação entre o Secretariado Internacional e o Conselho Executivo?

Antes de concluir a minha exposição e de vos desejar, de nos desejar, uma boa Assembleia Geral, gostaria de agradecer a dois amigos de longa data ― Shreesh Juyal, do Canadá, e Smati Zoghbi, da Argélia ― que, por motivos de saúde, não puderam completar os seus mandatos no Secretariado Internacional, e gostaria ainda que recordássemos e nos erguêssemos em homenagem à memória de Roger Dittman, dos Estados Unidos, e de Seiji Yuasa, do Japão, figuras históricas e altamente simbólicas de nossa FMTC, que nos deixaram desde a nossa anterior Assembleia Geral.

Agradeço a vossa atenção e desejo-vos bom apetite.

Jean Paul Lainé
Presidente
9 de Maio de 2022