Mesa-Redonda: A Carreira de Investigação Científica

A CARREIRA DE INVESTIGAÇÃO
O Passado, o Presente e o Amanhã

No passado dia 7 de Maio, teve lugar no Anfiteatro Abreu Faro do Complexo Interdisciplinar do Instituto Superior Técnico (IST), a Mesa-Redonda “A Carreira de Investigação: o passado, o presente e o amanhã”, uma iniciativa conjunta da OTC e do NinTec – Núcleo de Investigadores. O encontro foi realizado em modo híbrido com quase meia centena de participantes a distância e cerca de vinte presencialmente.

Da Mesa intervieram quatro destacados membros da comunidade científica nacional. Às intervenções seguiu-se um amplo debate com a assistência presente e online. A Mesa foi coordenada pela colega Ana Maria Silva, Universidade de Évora e OTC, que apresentou os oradores.

Frederico Carvalho, do Campus Tecnológico e Nuclear do Instituto Superior Técnico (CTN-IST) e Presidente da OTC, dissertou sobre “A Investigação Científica e os Investigadores. História de uma Carreira”. Abriu a sessão com uma retrospectiva histórica da carreira de investigação em Portugal, destacando a evolução desde o Estado Novo até ao período pós-25 de Abril de 1974, passando pelas reformas introduzidas por Mariano Gago. Frederico Carvalho realçou a importância da coexistência entre ensino e investigação. Reflectiu sobre a evolução do entendimento da necessidade de um sistema dual de carreiras, no seio de uma comunidade científica multifacetada, defendendo uma carreira de investigação autónoma e nacional, no sector público.

Seguiu-se Nuno Peixinho, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e do Departamento de Física da Universidade de Coimbra que abordou a questão da “Investigação científica com contratos: o presente e o futuro”. Nuno Peixinho focou-se na actual situação dos investigadores que operam sob contratos fora da Carreira de Investigação Científica (CIC). Destacou a transição entre uma generalizada sustentação do Sistema Científico e Tecnológico Nacional com recurso a bolseiros, para um sistema com recurso a contratados pelo Diploma de Estímulo ao Emprego Científico (DL57), passando a coexistir diferentes tipos de contratos, contratos a termo e CIC, com desigualdade de direitos e remunerações para as mesmas funções. Sublinhou que o programa de co-financiamento FCT Tenure, não é suficiente, cobrindo um terço das necessidades do país, elevando dúvidas e preocupações sobre o futuro do emprego científico e da ciência em Portugal.

Peter Jordan do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, partilhou a sua experiência e o seu conhecimento sobre as “Realidades da Carreira de Investigação nos Laboratórios de Estado (LE)”. Peter Jordan destacou que os LE, fazendo parte do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN), desempenham um papel crucial no apoio à definição e implementação de políticas públicas, através de actividades de investigação de elevados níveis de isenção, independência e competência. Contudo, apontou sérios obstáculos como a falta de progressão na carreira, a ausência de avaliações de desempenho, a dependência do Ministério das Finanças para a abertura de concursos, e, as condições de trabalho insatisfatórias devido ao subfinanciamento. Ressaltou ainda que os investigadores de carreira têm pouco peso político para se fazerem ouvir, pois correspondem apenas a cerca de 3% dos investigadores doutorados do país.

Por último, Ana Margarida Ricardo, do IST-ID e Presidente da Mesa-da-Assembleia do NinTec, trouxe à discussão a precariedade na ciência, particularmente no contexto das Instituições Privadas sem Fins Lucrativos (IPSFL). Ana Margarida Ricardo discutiu o crescimento da produção científica contrastado com a crescente precarização dos trabalhadores científicos. Criticou as ilusões geradas pelas alterações legislativas e apontou para o défice democrático presente no sistema atual. Defendeu a criação de condições efectivas de estabilidade laboral que não desvalorizem a carreira de investigação científica.

Ressaltou das exposições dos oradores convidados, a importância e os desafios enfrentados pelos investigadores em Portugal, com destaque para a sua situação antes e após a Revolução de Abril de 1974. O assunto de maior relevo não pode deixar de ser a precariedade, pelas marcas que tem deixado a nível nacional neste grupo profissional correntemente designado por “pessoal investigador”. A importância e a necessidade da investigação e dos investigadores é hoje, em regra, correntemente reconhecida em palavras, designadamente, pelo pessoal político. Nos actos já não é tanto assim, pois não parece reconhecer-se a necessidade de garantir condições de vida e trabalho dignas, exigíveis para os trabalhadores em geral, condições essas cuja ausência impede ou dificulta tirar todo o partido de uma força de trabalho muito qualificada indispensável ao progresso social, económico e cultural da sociedade em que se integra.

Em certos casos, é a própria liberdade de expressão do pensamento, a liberdade de escolha de domínios de trabalho, que podem ser postas em causa por interesses privados, influências e vícios particulares. Trata-se de aspectos em que pesa muito a instabilidade da situação profissional associada à dependência de chefias de baixa qualidade. A precariedade é uma chaga persistente que não poderá ser combatida na ausência de um estatuto profissional correctamente construído. Esta é uma questão central que importa ter em conta, sem ignorar as implicações financeiras que lhe estão associadas.

Ficou bem patente a necessidade urgente de reformas que garantam melhores condições de trabalho, estabilidade e valorização da carreira de investigação, assegurando assim um futuro sustentável para a ciência no país.

Foi notória a importância e complexidade da temática exposta, pelo interesse e vigor do debate entre os presentes, que se prolongou por mais uma hora além do previsto, sem perda de audiência.

A sessão foi gravada. No vídeo abaixo, podem seguir-se as intervenções dos quatro oradores convidados e as questões levantadas no espaço de debate que se lhes seguiu.

 

1 Trackback / Pingback

  1. A Investigação Científica e os Investigadores – OTC

Os comentários estão encerrados.