
Nos 125 anos do seu nascimento
Frédéric Joliot-Curie
Um homem íntegro, cientista eminente, figura ímpar na luta pela Paz
“Ciência sem consciência
mais não é que ruína da alma”
François Rabelais (1484-1533)
As origens, nascimento e morte
Em 19 de Março de 1900 nascia em Paris, aquele que se revelaria ao longo da vida como figura excepcional pela contribuição que viria a dar para o avanço do conhecimento científico, tanto quanto pela dedicação à causa da Paz, como cidadão empenhado na defesa dos valores humanistas opostos às aplicações perversas da ciência como instrumento de domínio, agressão, destruição e morte.
Frédéric Joliot-Curie — registado como Jean Frédéric Joliot — faleceu em 14 de Agosto de 1958, em Paris. Um funeral nacional, como dois anos antes o fora o da sua companheira Irène Curie, foi decretado por Charles de Gaulle, então presidente do Conselho de Ministros do governo francês.
Durante dois dias o caixão esteve depositado no pátio de honra da Sorbonne, aberto ao público. Ao terceiro dia militares da Guarda Nacional transportaram o caixão através das ruas de Paris até ao cemitério de Sceaux onde o seu corpo repousa ao lado do de sua mulher, próximo do local onde jaziam os restos mortais de Marie e Pierre Curie que foram mais tarde transladados para o Panteão Nacional.
No momento do adeus, à entrada do cemitério, junto à urna, John Desmond Bernal [1], pronunciou as seguintes palavras: “Joliot foi, mais do que qualquer outro, aquele que lembrou aos homens de ciência, pelo seu exemplo mais até do que pela palavra, a justeza do velho ditado de Rabelais: “Ciência sem consciência mais não é que ruína da alma”. Essa consciência, agora, está largamente acordada, encontramo-la entre os cientistas (…) A tragédia de Joliot é real, mas é uma tragédia nobre. É justamente por ter vivido num período conturbado que se revelou a sua verdadeira grandeza. Transformou-se pelo seu trabalho, pela sua coragem, num exemplo que se mantém vivo de que o homem pode sempre vencer as dificuldades mais difíceis, e combater os males mais atrozes.
O novo mundo, belo e feliz, que sonhou, a humanidade construi-lo-á seguramente, e mesmo mais cedo do que se pensa hoje, Ainda que a morte no-lo tenha levado no auge do seu génio e ainda que o devamos chorar como sábios ou como amigos, não nos é permitido encontrar na sua morte uma derrota do seu espírito. Ele, nunca o teria admitido. Viveu conscientemente para o futuro.”

Frédéric Joliot — Fred, como era tratado em casa — nasceu no seio de uma família numerosa. O pai, Henri Joliot, de origem operária, combatera nas fileiras dos revolucionários da Comuna de Paris (1871) cuja memória perdura no tempo como primeira, prematura e fugaz tentativa de constituição de uma República Popular. Afogada em sangue, alguns que puderam escapar foram obrigados a expatriar-se e regressaram apenas anos mais tarde.
Henri Joliot (1847-1921) foi um desses. Estabeleceu-se em Paris, e, em 1879, contraiu matrimónio civil com a que viria a ser mãe de Frédéric, Marie Emilie Roederer (1858-1946), uma jovem alsaciana nascida na região francesa fronteiriça com a Alemanha — a Alsácia-Lorena — que foi em grande parte anexada pelos alemães nos termos do acordo de paz que pôs fim à Guerra Franco-Prussiana (1870-71). Marie Emilie, então com 21 anos de idade, nascera numa família alsaciana, protestante, republicana e liberal. O casal teve seis filhos, o último dos quais foi Frédéric Joliot. Criado numa família completamente não religiosa, Frédéric Joliot nunca frequentou nenhuma igreja e foi um ateu convicto durante toda a sua vida.
São dele estas palavras: “A morte nada é, se os outros pensam como eu, reencontrarão a marca que deixei e assim estarei presente”.
Frédéric Joliot-Curie morreu de insuficiência hepática atribuída à sobreexposição às radiações, que se acredita ter tido também papel decisivo nas mortes de Irene e Marie Curie.
Os primeiros passos nos caminhos da Ciência
Com 20 anos de idade, Frédéric Joliot candidata-se e é aceite — com outros 33, entre 430 candidatos — na Escola Superior de Física e Química Industrial da cidade de Paris. A École Supérieure de Physique et Chimie Industrielle (ESPCI), criada por decisão da autarquia da Cidade no ano de 1882 não foi um qualquer estabelecimento de ensino superior e o futuro mostra-o.[2] A orientação do jovem Frédéric foi entregue ao Professor Paul Langevin, amigo próximo de Marie Curie, e figura maior da ciência francesa.
Na escolha da sua nova escola, mais próxima da figura de escola politécnica do que de uma Faculdade, pesara a situação familiar. A família atravessava dificuldades económicas que se agravaram com o falecimento do pai, Henri Joliot, ocorrido em 1921.Embora Frédéric se inclinasse para a investigação fundamental, a proximidade da Escola às aplicações com interesse para a indústria, como o seu nome indica, levavam a pensar que o jovem Joliot mais cedo poderia encontrar uma posição no mundo do trabalho que lhe permitisse dar apoio à família. Acresce que na Escola não só não existiam propinas como eram dadas bolsas aos estudantes. Ao contrário do que na altura acontecia na Faculdade de Ciências, onde os estudantes não tinham acesso aos laboratórios, na Escola Superior de Física e Química Industrial, dois terços do tempo lectivo era passado nos laboratórios o que agradava particularmente a Frédéric Joliot.
No geral, os alunos recebiam uma educação de alto nível, regularmente actualizada, privilegiando o trabalho laboratorial num espírito de não especialização, o que “os predispõe especialmente a manter a ligação entre a investigação científica e as suas aplicações técnicas. Isto parece-me importante — diz Joliot — na nossa era, quando qualquer conquista da Ciência pura, mesmo a mais abstracta, passa quase imediatamente para o domínio das aplicações». No Verão de 1923, Frédéric Joliot deixa a Escola, terminada a sua formação em Física — a opção escolhida — como “major” do seu curso, isto é: o melhor do seu curso.
Entretanto, nas férias de Verão, entre o segundo e o terceiro anos do curso, Joliot vive uma experiência nova: estagia numa fábrica metalúrgica no Luxemburgo. Foi uma experiência importante para ele que, dada a sua maneira de ser, facilmente se relacionava e contraía amizades nem sempre passageiras. Experiência que recordaria frequentemente: “Mergulhei subitamente num meio onde os problemas sociais estavam presentes. Os engenheiros estagiários viviam com os operários. Tinham os mesmos horários de trabalho, o mesmo salário, as mesmas acomodações. Eu ouvia-os e discutíamos.”
Segue-se o serviço militar, cerca de um ano: Escola de Artilharia e, em seguida Serviço dos Gases de Combate.
No final do serviço militar vai colocar-se a escolha de uma carreira. Frédéric Joliot e Pierre Biquard, colegas de curso, ligados por uma sólida amizade que se manteria ao longo da vida, conversavam há meses sobre o assunto. Ambos procuram um futuro ligado à investigação, mas sabem que são raros os lugares que se abrem nesse caminho e modestos os salários — incomparavelmente mais baixos que os ordenados da indústria. Quando, na altura, se apresenta a possibilidade de beneficiar de uma bolsa Rothschild, a decisão é rapidamente tomada. Durante o Outono de 1924, Biquard decide-se a expor em nome dos dois a Paul Langevin, supervisor de ambos, o seu desejo comum.


A reacção de Langevin é, todavia, desanimadora: “Para uma carreira universitária, tendes uma inferioridade: não sois “normaliens”[3]… Isso constituirá para vós, no estado actual da Universidade, um sério handicap…Para vos impor, seria necessário que fizessem um trabalho verdadeiramente excepcional”. A verdade é que, algum tempo depois, são ambos convocados pelo professor para anunciar-lhes que Marie Curie e ele próprio, os aceitam como preparadores [4], Joliot no laboratório Curie e Biquard na Escola que os formara. Joliot apresenta-se perante Marie Curie no dia 21 de Novembro de 1924, fardado, pois ainda não tinha concluído as suas obrigações militares. “Vejo-a aqui, no seu escritório, pequena, cabelos grisalhos, o olhar muito vivo. Estava sentado à sua frente, fardado de oficial, e muito intimidado’. Ela ouviu-me e perguntou-me abruptamente ”Pode começar a trabalhar amanhã?” Faltava-me completar três semanas de serviço. Ela decidiu: “Escreverei ao seu coronel”. No dia seguinte tornei-me seu preparador particular.” A colaboradora mais próxima de Marie Curie, titular da cátedra de estudo da radioactividade e directora do Laboratório Curie, é a sua própria filha, Irène, então chefe de trabalhos. Eis assim selado o destino de Frédéric Joliot, como o próprio viria a lembrar mais tarde.
Irène Curie, três anos mais velha do que Frédéric Joliot, trabalhava com a mãe desde 1916, Quando Joliot entra no Laboratório Curie encontra uma Irène, já com um currículo científico importante, em vésperas de defender uma tese de doutoramento sobre a radiação alfa do polónio, na qual vinha a trabalhar havia cerca de dois anos. O doutoramento tem lugar em Março de 1925. O jovem “preparador”, então apenas com um diploma de “engenheiro”, passa a trabalhar assídua e diariamente com a jovem doutora. As relações que se tecem, apesar ou talvez por isso mesmo, entre dois companheiros de trabalho de temperamentos e modo de trato muito diferentes, vão levar a uma vontade de união entre ambos, da qual Irène dá notícia a sua mãe. O noivado torna-se oficial em Junho de 1926. Irène e Frédéric casam em Paris, a 9 de Outubro; casamento civil, sem cerimónia religiosa. A união foi feliz no plano pessoal e também, para ambos, extremamente fértil no plano científico. À morte de Irène, Joliot escreveu em carta a uma velha amiga: “Perdi a mulher que amava com todo o meu ser, uma companheira de trabalho excepcional e também, um pouco, uma mãe.”
Entre duas guerras
Quando Joliot entra no Institut du Radium, o laboratório dirigido por Marie Curie, e começa a trabalhar, coloca-se a questão do seu estatuto futuro no seio da comunidade académica já que Fred era como referido, um simples engenheiro, formado embora numa escola de excelência, mas desligada da universidade. O que não teria qualquer importância se o seu destino, como chegara a entrever, fosse a indústria.
A sua disposição tinha-se, entretanto, definitivamente alterado. Ora Joliot não possuía sequer o diploma final dos estudos secundários, designado em França por baccalauréat. Sem isso, desde logo, uma carreira de investigação e a docência em escola superior, o grau de mestre e o doutoramento, seriam impossíveis. Marie Curie exige, então, que Frédéric volte à escola — a que chamaríamos liceu — e se candidate aos exames finais do ensino secundário ao lado dos muitos, para ele, miúdos, que lá iria encontrar. Fê-lo, como se esperaria, rapidamente e com sucesso. E quase de seguida, por assim dizer, de um mesmo folgo, passa imediatamente à licenciatura — em França, licence — e torna-se bachellier. Apesar disso, não tendo saído nem duma Escola Normal Superior nem da Sorbonne, “o jovem engenheiro é durante muito tempo um estranho no seu novo meio”. Em 1927, escassos três anos após a sua admissão no Institut du Radium, Joliot publica o seu primeiro trabalho sob a forma de uma Nota nos Anais da Academia das Ciências de França. A Nota versava sobre um novo método de estudo do depósito electrolítico dos radio elementos.
A radioactividade e a física nuclear permaneceram ao longo de toda a sua vida como tema central da actividade científica de Frédéric Joliot, situação comparável à de Irène ao lado de quem trabalhava e com quem já nessa altura por vezes colaborava, então, sob a orientação serena e inteligente de Marie Curie. E, no que toca a Joliot, em certo sentido e em boa parte, também, tema fio-condutor do seu activismo político e social.
Os anos que se seguem são anos de actividade febril do casal Irène-Frédéric que conduz a resultados científicos excepcionais.
Durante 3 anos Irène e Frédéric Joliot trabalham juntos, publicam extensivamente: 5 publicações em conjunto; isoladamente, quatro para Irène, 8 para Frédéric, incluindo a tese de doutoramento deste, ou, ainda, com outros colaboradores, duas e uma, respectivamente. Segue-se o período muito produtivo, entre 32 e 34, em que se empenham juntos no programa de investigação que levará à descoberta da radioactividade artificial que vêm a anunciar publicamente em Janeiro de 1934. A descoberta que irá valer-lhes o Prémio Nobel da Química é atribuído a ambos em 1935.

As portas do mundo académico abrem-se então formalmente para os dois. Frédéric ensina na Faculdade de Ciências da Sorbonne e Irène sucede a Marie Curie, que falecera em 1934, à frente do Laboratório Curie. Há razões para crer que a descoberta da radioactividade artificial, largamente divulgada, à época, pela imprensa, e objecto de atenção nos círculos governamentais, foi determinante na criação em Abril de 1933, de um Conselho Superior da Investigação Científica na sequência de uma petição do físico Jean Perrin, Prémio Nobel de Física de 1926, assinada por 80 cientistas entre os quais 8 prémios Nobel.
A Ciência francesa dava frutos e permitia esperar contribuições importantes para o desenvolvimento económico e social do país. Joliot associou-se à campanha de Jean Perrin em defesa da definição de uma política científica nacional e pela valorização salarial dos trabalhadores científicos.
O ano de 1934 foi, em França, um ano de excepcional turbulência e agitação social. Na vizinha Alemanha, Adolf Hitler fora nomeado chefe do governo em Janeiro de 33. Em Março, mediante uma série de manobras habilidosas, viu serem-lhe concedidos poderes ditatoriais pelo Parlamento alemão.
Em França, a extrema direita fascista agitava-se. Em 6 de Fevereiro de 1934, grupos de direita, de extrema direita e antigos combatentes, promovem uma manifestação violenta em Paris, que causa 19 mortos e mais de 1000 feridos. Este acontecimento tem um considerável impacto na comunidade de professores e investigadores a trabalhar no vizinho Quartier Latin, bairro onde se encontravam, na altura, as mais importantes instituições de ensino superior e ciência de França. É criado o comité de Vigilância dos Intelectuais Antifascistas (CVIA) do qual Paul Langevin, simpatizante comunista, é um dos promotores. Frédéric Joliot está presente no acto de fundação do Comité, e é um dos signatários, tal como Irène Curie, do “Apelo dos intelectuais contra o fascismo”, tornado público a 12 de Março. Joliot assumiu o activismo político e social como complemento necessário do seu trabalho científico. Em 1935, meses antes de lhe ter sido entregue o Prémio Nobel, Irène Curie, que nunca chegou a aderir ao Partido Comunista Francês (PCF) mas cuja visão da sociedade e do mundo era muito próxima da de Frédéric, escreve um artigo em que é estigmatizado o estado de abandono da investigação científica francesa, quando as despesas militares são tão importantes, e a incapacidade do sistema económico para satisfazer as necessidades básicas. Escreve: “Uma vez que este sistema de trocas se mostrou incompatível com a distribuição dos bens de primeira necessidade fornecidos em abundância pelo trabalho humano, este sistema deve desaparecer. A economia do futuro não pode ter por base o lucro (…). A URSS mostra-nos que um sistema económico baseado apenas no interesse colectivo é um sistema viável”.
Em 1936, é criada em França uma coligação política de esquerda — a “Frente Popular” — formada com vista às eleições legislativas que se aproximavam. Integravam a Frente, o Partido Radical, a Secção Francesa da Internacional Operária (SFIO) e o Partido Comunista. A Frente Popular que obtém a maioria absoluta dos assentos parlamentares, irá dar lugar à formação de quatro governos entre Junho de 36 e Abril de 38. Todos terão o apoio do PCF embora não participe em nenhum deles. Joliot tem um papel de relevo na acção da Frente Popular, que procura cimentar em França uma barreira contra o nazifascismo.
Irène Curie é convidada e aceita o lugar de Subsecretária de Estado para a Investigação Científica. Irène aceita, com relutância, “por dever e fidelidade às suas convicções feministas”, numa altura, note-se, em que a mulher não tinha ainda direito de voto. Fica pouco tempo no cargo pois ansiava por voltar ao seu laboratório. Entretanto, a criação da Subsecretaria de Estado é, efectivamente, o primeiro resultado do empenhamento de cientistas progressistas, Paul Langevin, Jean Perrin e a própria Marie Curie, a favor de uma política de Ciência.
Em 1936, o eclodir da guerra em Espanha leva a uma radicalização de posições, também no seio da comunidade científica progressista. Frédéric Joliot e Francis Perrin, filho de Jean Perrin, assinam no jornal “A Comuna” uma petição em defesa da Espanha republicana e contra a política de não-intervenção adoptada pelo governo francês. Neste ano de 1936 a militância do casal Joiliot-Curie pela Paz e contra o fascismo aprofunda-se. Irène participa no Comité internacional das mulheres contra o fascismo e a guerra; Frédéric é membro activo da União universal para a Paz, fundada em Genebra, em Maio, pelo inglês Cecil Howard e o francês Pierre Cot. Em França, integra a direcção, presidida por Jean Perrin, do Círculo das Nações, filial daquela União.
Ente 36 e 39, ano este que viu desencadear-se a guerra que assolaria a Europa durante os 5 anos seguintes, os progressos científicos no domínio da radioactividade e da física nuclear foram surpreendentes. Em França, no Reino Unido, em Itália e na Alemanha, sobretudo, a estrutura do núcleo atómico foi sendo progressivamente desvendada. Para a descoberta do neutrão, confirmada em 32, contribuíram os trabalhos de investigadores trabalhando em três países diferentes: o passo inicial fora dado em 1928 pelos físicos alemães Walter Bothe, e o seu aluno, Herbert Becker, aluno daquele. O casal Joliot-Curie, e o inglês James Chadwick, selaram a descoberta em 1932.
A descoberta do neutrão foi a chave do que se seguiria: a prova experimental da cisão nuclear, em fins de 1938, fruto, também aqui, de esforços conjugados de investigadores a trabalhar em diferentes países. A experiência decisiva e a sua interpretação teórica devem-se aos químicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann, à física austríaca Lise Meitner e ao físico alemão Otto Frisch. Pouco depois, em 1939, em Paris, um grupo de que fazia parte Frédéric Joliot, mostrou que a cisão do núcleo de urânio provocada pela captura de um neutrão é acompanhada de uma enorme libertação de energia e dá lugar à emissão de mais do que um neutrão. Este facto permite estabelecer uma reacção nuclear em cadeia. Estava aberto o caminho que tornaria possível um futuro aproveitamento da energia nuclear para o bem ou para o mal.
Na altura, a ameaça nazi, levou Joliot e a sua equipa a procurar fabricar um explosivo nuclear. Foram feitas algumas experiências que a guerra veio interromper.
A guerra e a resistência
Em 1 de Setembro de 1939, a Alemanha nazi invade a Polónia. Começara a tragédia que só viria a terminar em Agosto de 1945. A França é invadida em Junho de 1940 e em 14 de Julho as forças alemãs entram em Paris. Frédéric Joliot que, em Janeiro de 1940, com numerosos outros cientistas se declarara disposto a trabalhar para a defesa nacional, entende que deve abandonar a linha de investigação em que estava envolvido, fixando-se na sua actividade docente no Collège de France. A isso era forçado pela presença e a vigilância do ocupante. Joliot e os seus colaboradores mais próximos sabiam que, na Alemanha, os físicos alemães estavam igualmente a trabalhar, e no maior segredo, na criação das condições propícias ao estabelecimento de uma reacção nuclear em cadeia. Antes de Setembro de 1939, os governos em França não pareciam ver a Ciência e o trabalho científico como um instrumento de progresso, factor crucial de desenvolvimento económico, social e cultural do país. A situação mudara, entretanto, e talvez possa dizer-se que a invasão da Polónia pelos nazis foi um catalisador da abertura política que permitiu a criação em Outubro de 39 do CNRS, o Centro Nacional de Investigação Científica, à qual Joliot esteve directamente ligado.
A maior parte dos colaboradores mais próximos de Frédéric Joliot, decidiu-se pela emigração tal como aconteceu com cientistas eminentes que trabalhavam na Alemanha e em Itália e que vieram a encontrar nos Estados Unidos da América ou no Reino Unido condições para prosseguir os seus trabalhos. Joliot decidiu ficar.
Habilmente, conseguiu que as autoridades militares alemãs permitissem manter aberto o seu laboratório no Collège de France e mantê-lo sob a sua direcção, cedendo embora à exigência de acolher nele una equipa de físicos alemães particularmente interessados em explorar as possibilidades de trabalho oferecidas pelos equipamentos existentes, em especial, o ciclotrão que Joliot instalara no laboratório. O rumo que seguira anteriormente — chegar a um explosivo nuclear — era agora impossível. Reorientou a actividade de investigação para o domínio da radiobiologia envolvendo o estudo da acção das radiações sobre os seres vivos, com a tónica nos efeitos biológicos da radioactividade. Esse era um domínio que sempre o interessara e do qual a necessidade de explorar a física da desintegração do urânio o levara a afastar-se.
Sob a ocupação, Joliot voltava agora à biologia.
Importa dizer que, escassas três semanas antes da entrada das forças alemãs em Paris, Joliot com os seus colaboradores mais próximos, tinham conseguido retirar de Paris um importante stock de água pesada adquirido na Noruega, na altura único produtor conhecido; cerca de 8 toneladas de óxido de urânio; e uma tonelada de grafite, destinados ao projecto em que estavam a trabalhar de desenvolvimento de um explosivo nuclear[5].
A resistência francesa ao ocupante nazi, entretanto, organizava-se. Na Primavera de 1941, por iniciativa do Partido Comunista Francês, é formada a Frente Nacional de luta pela libertação e independência da França, clandestina, de carácter unitário, em que participam resistentes com posições diversas. Paul Langevin e Frédéric Joliot são contactados e aderem. Joliot virá a assumir a presidência da Frente Nacional. Pouco depois é criada a Frente Nacional Universitária, um braço da primeira, que procura organizar a resistência no meio universitário. Joliot, uma das figuras dominantes desse braço, será membro da direcção.
A prisão pela Gestapo em 1941 de Paul Langevin, o físico prestigiado que lhe abrira as portas do mundo da investigação, foi um profundo choque para Joliot e os seus companheiros e colaboradores próximos. Joliot reagiu com o vigor próprio do seu carácter e a coragem que se lhe reconhecia: informou o comando alemão que encerraria imediatamente o laboratório e terminaria a sua actividade docente.
O facto é que os alemães estavam realmente interessados em tirar partido dos resultados da actividade de investigação que tinha vindo a ser desenvolvida no laboratório que Frédéric Joliot dirigia e fora de resto por esse motivo que tinham consentido em mantê-lo em funcionamento.
Interessava-os sobretudo saber até que ponto tinham chegado no que respeitava ao aproveitamento da energia libertada na cisão nuclear. Assim, pouco tempo depois, Langevin era devolvido à liberdade. O laboratório reabriu e Joliot retomou as suas actividades docentes.
As visitas frequentes de oficiais alemães ao laboratório, eram objecto de especulação no meio académico onde alguns se questionavam sobre o seu significado, interrogando-se sobre a posição de Frédéric Joliot em relação ao ocupante nazi. Entretanto o laboratório continuava a ser procurado pelos estudantes que aí procuravam ajuda e aconselhamento do mestre e dos seus colaboradores. Os alemães viam-nos e escutavam as suas conversas. O que não imaginavam era que o laboratório, fora das suas vistas, se transformara secretamente numa oficina onde eram fabricados e cuidadosamente dissimulados minas e outros engenhos explosivos, materiais incendiários, aparelhos emissores-receptores de radio… uns e outros, destinados aos grupos de resistentes clandestinos que um pouco por toda a França ocupada procuravam desgastar as forças alemãs, cortando linhas férreas, fazendo saltar comboios, entre outras acções. Disfarçadamente, de dia ou de noite, aqueles estudantes que frequentavam o laboratório saiam com os materiais por uma porta de serviço que dava para uma rua lateral. Segundo algumas fontes, contaram-se por 18 o número de laboratórios de “investigação” em Paris que, um atrás de outro, se transformaram da mesma forma para apoiar aqueles que no terreno combatiam o exército nazi. Quando se fala em “A Resistência” em França é também de todos estes que se fala.
Na Primavera de 1942, os exércitos nazis progridem na frente leste penetrando profundamente na Rússia. Frédéric Joliot adere ao Partido Comunista Francês e aprofunda a sua contribuição para a Resistência. No início de 1944 os riscos que corre acentuam-se. Na Primavera desse ano é tomada a decisão da sua passagem à clandestinidade. Consegue, ainda na legalidade, numa última acção de relevo, organizar a fuga para a Suíça do mestre e amigo Paul Langevin subtraindo-o à ameaça iminente de prisão e deportação que pesava aliás sobre o próprio Joliot. Irène Curie e os filhos do casal tinham já conseguido refugiar-se no país vizinho cujo estatuto de neutralidade se manteria durante todo o conflito.
Na clandestinidade Joliot participa activamente na preparação da insurreição de Paris que se dá a 19 de Agosto. Nas ruas e praças de Paris os combatentes da Resistência enfrentaram os blindados alemães com granadas e com o que veio a chamar-se “cocktails Molotov” fabricados nos laboratórios clandestinos como aquele que Joliot montara no Collège de France. Uma luta encarniçada prolongou-se por sete dias nas ruas de Paris. A 25 as forças alemãs cederam. Paris foi libertada em 25 de Agosto. Nesses mesmo dia entraram em Paris as tropas americanas precedidas pelas divisões militares da França Livre.
A arma atómica e o movimento da Paz
A partir de meados da década de 30, a ameaça representada pela tomada do poder por Adolf Hitler e o ascenso do nazismo na Alemanha, leva a uma ponderação do papel da ciência e dos cientistas na nova situação. Em França, Joliot e numerosos outros cientistas, físicos e químicos, sobretudo, entenderam que era necessário reconsiderar a orientação das suas linhas de trabalho com particular atenção ao que sabiam estar a passar-se com os seus colegas alemães, sobretudo a partir do momento em que a prova experimental do fenómeno da cisão nuclear foi conhecida. Eram homens e mulheres que em 36 haviam participado activamente e contribuído para a criação da Frente Popular contra o nazifascismo. Eram partidários da Paz e de uma transformação social no interesse dos trabalhadores e do povo. Viam-se agora numa situação que os levava a considerar a necessidade de orientar os seus trabalhos no sentido de contribuir por todos os meios para a luta armada que a situação exigia. Foi o que procuraram fazer sabendo que muitos ficariam pelo caminho, como aconteceu. Semelhante crise de consciência e necessidade de tomar posição nas novas condições, acontecia também com vários dos seus colegas britânicos e, neste contexto, importa salientar o facto de que entre os dois lados do Canal da Mancha se solidificaram amizades e estabeleceram proveitosas relações de colaboração.
Nos EUA os trabalhos conduzidos no âmbito do denominado Projecto Manhatan tiveram início ainda em 1939. O objectivo prioritário era, tal como acontecera em França, explorar a cisão nuclear para chegar a um dispositivo explosivo. Do outro lado do Atlântico os trabalhos dos físicos alemães não passavam despercebidos para o que contribuiu em parte a actividade de espiões americanos na Alemanha. Os Estados Unidos da América entraram na guerra em Dezembro de 1941. O Projecto Manhatan, de colossal dimensão humana, material e financeira, bem-sucedido, conduziu à primeira explosão nuclear que ocorreu a 16 de Julho de 1945, algures no Novo México. Em 6 e 9 de Agosto, a força aérea americana lançou sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente, uma bomba nuclear de urânio e outra de plutónio, causando de imediato cerca de 200 mil vítimas mortais. Pode descrever-se estes acontecimentos como um segundo e terceiro ensaios da arma nuclear com vista a avaliar os seus efeitos destruidores, numa situação real, em teatro de guerra, e daí a sua importância nos planos político e militar. Não colhe a justificação desta atrocidade como necessária para por o Japão de joelhos já que este estava à beira da rendição. Recordemos as palavras de Nelson Mandela, Nobel da Paz de 1993: “Essas bombas não eram dirigidas contra os japoneses: eram dirigidas contra a União Soviética para dizer: vejam, este é o nosso poderio e se ousarem opor-se a nós isto é o que vos acontecerá.”[6]
As explosões de Hiroshima e Nagasaki tiveram um profundo impacto em largos sectores da opinião pública mundial, desde logo no seio da própria comunidade científica que contribuíra para que a libertação explosiva da energia atómica fosse possível. Designadamente, junto de muitos dos cientistas que, perante o ascenso da ameaça nazifascista, procuraram antecipar-se aos alemães na exploração da possibilidade de tirar partido da cisão nuclear para fins militares. Frédéric Joliot está neste último grupo[7]. Joliot não era apenas um pacifista, era um comunista e incansável activista na defesa dos valores em que acreditava. Daí o dever-se-lhe ter iniciado o projecto de lançamento de um Apelo universal que ficou conhecido na História como o Apelo de Estocolmo. Datado de 19 de Março de 1950, o texto do Apelo era breve, mas incisivo:
“Exigimos a proibição absoluta de armas atómicas, armas de terror e extermínio em massa de populações. Exigimos o estabelecimento de um controlo internacional rigoroso para garantir a aplicação desta medida de proibição.
Consideramos que um governo que fosse o primeiro a utilizar armas atómicas contra qualquer país estaria a cometer um crime contra a humanidade e seria tratado como um criminoso de guerra.
Apelamos a todas as pessoas de boa vontade do mundo para que assinem este apelo.»
Joliot era o primeiro signatário. Estima-se que o número de assinaturas recolhidas em todo o mundo ultrapassou os 200 milhões.
O Apelo foi lançado em Estocolmo na reunião do Congresso do Movimento Mundial dos Partidários da Paz que daria origem, pouco depois, ao Conselho Mundial da Paz. No primeiro congresso deste último, em Fevereiro de 1951, a presidência do Conselho Mundial da Paz é atribuída a Frédéric Joliot.

Roger Rössing / Renate Rössing -Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 de
Importa dizer que há um sentimento de urgência por trás do lançamento do Apelo de Estocolmo que se prende com a decisão de Truman, sucessor de Roosevelt, tomada escasso mês e meio antes, em Janeiro, de lançar o fabrico de uma bomba termonuclear — a bomba de hidrogénio — contra o parecer do notável físico Oppenheimer e da maioria dos membros do conselho consultivo a que presidia. Oppenheimer chamou-lhe “instrumento de genocídio”. Enrico Fermi que trabalhara no Projecto Manhattan e Rabin, outro físico notável, escreveram ao presidente dos Estados Unidos uma carta denunciando o facto de que “a simples existência dessa bomba constitui um perigo para a humanidade inteira”; Einstein declarou à imprensa que “o desaparecimento da vida sobre a terra se torna uma possibilidade técnica”. Tristemente, a Guerra Fria tornara-se uma realidade.
O nascimento da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos
As nuvens negras trazidas pela tomada do poder na Alemanha por Adolf Hitler levaram ao aprofundamento e, de algum modo, a uma mudança de qualidade no relacionamento interpares no seio das comunidades científicas de França e do Reino Unido. Como se disse atrás, entre as duas margens do Canal da Mancha, estabeleceram-se proveitosas relações de colaboração passando para segundo plano a questão da afirmação de prioridades na autoria da aquisição de novos conhecimentos. Joliot defendia “uma Ciência aberta”, afirmando que “toda a tentativa de limitação ou impedimento da difusão da informação científica representa um perigo extremamente grave para o progresso da ciência e para a civilização”. No domínio atómico não era essa, naturalmente, a prática. A posição de Joliot era partilhada por bom número de cientistas. Em Fevereiro de 46, numa reunião internacional que tem lugar em Londres com a participação de cientistas de nove países, Joliot profere uma conferência com o tema “A Ciência e o bem-estar da Humanidade”. No debate que se segue nasce a ideia da criação de uma organização internacional dos cientistas. Nasce assim a Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos, em que a designação de “trabalhador científico” segue a forma inglesa “scientific worker” para designar os homens de ciência. A reunião fundacional da nova organização, tem lugar em Julho, seguida três dias depois da primeira reunião de uma comissão executiva em que Frédéric Joliot é eleito presidente. A seu lado estarão John Desmond Bernal, o notável físico irlandês, como vice-presidente e o inglês Roy Innes como secretário-geral, posição que ocupava também na Associação Britânica de Trabalhadores Científicos (AScW). A AScW e a Association Française des Travailleurs Scientifiques criada em 1944, foram os pilares em que assentou a FMTS. Na primeira Assembleia Geral da FMTS (Praga 1948) cerca de 80% dos membros eram originários dos dois países. Os anos que se seguiram, até 1952, foram anos difíceis para Frédéric Joliot que se manteve intransigentemente defensor da coexistência pacífica entre as potências que em conjunto haviam combatido a Alemanha nazi, agora antagonistas divididos em dois campos, Estados Unidos, Reino Unido e França de um lado, a União Soviética do outro. A partir desse ano a direcção soviética permitiu a aproximação dos cientistas russos à Federação Mundial. Os cientistas americanos mantiveram-se, no essencial, afastados.[8]
Em França, após a libertação, Charles de Gaulle preside ao Governo Provisório da República (1945-46).[9] Em Outubro de 45 é criada a Comissão de Energia Atómica (CEA). Frédéric Joliot, que então dirigia o CNRS, é nomeado Alto Comissário para a Energia Atómica. Ao CEA é dada como missão a investigação científica e técnica com vista à utilização da energia nuclear em vários domínios de actividade não excluindo a defesa nacional.[10]
Em Abril de 1950, por razões políticas, Joliot é afastado pelo governo do cristão-democrata Georges Bideau. Regressa então ao seu antigo laboratório no Collège de France onde se reencontra com a investigação científica e a formação de quadros, a sua dedicação profunda.
Após a saída de Joliot, o CEA intensifica o trabalho nas aplicações militares da energia atómica. Embora o governo ainda não tivesse decidido oficialmente construir uma bomba atómica, tudo estava a ser feito para adquirir os meios para lá chegar. Joliot, primeiro signatário do apelo de Estocolmo, irá dedicar-se até ao fim da vida à causa da Paz e, simultaneamente, ao trabalho de direcção da Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos, à sua expansão e influência no seio da comunidade científica e na sociedade em geral.
Já no fim da vida, escreveu um dia: “Victor Hugo dizia:‘ …a ciência está constantemente a corrigir-se a si própria. Correcções fecundas…A ciência é como degraus de uma escada…A poesia é um golpe de asa…Uma obra-prima artística é algo que permanece…Dante não apaga Homero’. É certo que a obra-prima artística tem um carácter mais permanente que a criação científica, mas estou convencido de que o que move o artista e o sábio, tal como as qualidades de pensamento e de acção exigidas, são as mesmas. A criação científica nos seus cumes mais altos é ela também um golpe de asa…O artista e o cientista reencontram-se assim para criar, em todas as formas, a Beleza e a Felicidade, sem as quais a vida não seria mais do que sombrio movimento. O homem de ciência é como o operário ou o artista que construía as catedrais. Os que participavam numa obra que necessitava por vezes o trabalho de várias gerações sem que isso diminuísse o seu ardor e o seu amor pela obra da qual não poderiam ver a conclusão. (…) A ciência dá àquele que a serve grandiosas perspectivas; é uma obra para a qual o cientista contribui cada dia sem ter o desejo vão de ver ele próprio a conclusão.”
Frederico Carvalho
O autor utilizou abundantemente como fontes as duas obras seguintes:
Michel Pinault, « Frédéric-Joliot Curie », Éditions Odile Jacob, Paris, 2000, e
Marianne Chaskolskaia, « Frédéric Joliot-Curie », Éditions MIR, Moscovo, 1968.
A primeira baseia-se numa tese elaborada sob a orientação do Professor Antoine Prost e defendida em Março de 1999 na Universidade de Paris, Panthéon Sorbonne
Nota OTC: uma versão curta do presente artigo foi publicada na Revista “O Militante”, nº395 Março/Abril 2025, pp.48-54
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[1] John Desmond Bernal (1901-1971), membro da Royal Society (FRS), foi um cientista irlandês pioneiro na utilização da cristalografia de raios X em biologia molecular. É autor de uma vasta obra sobre a história da ciência. Entre as mais notáveis está a monumental “Ciência na História” (“Science in History”) em quatro volumes, de consulta obrigatória para quem se interessa pelo percurso histórico da humanidade nos caminhos do conhecimento científico. Além disso, Bernal escreveu livros populares sobre ciência e sociedade. Foi um activista comunista e membro do Partido Comunista da Grã-Bretanha.
[2] A Escola ainda hoje existe e regista-se a seguinte informação:
A investigação na ESPCI Paris centra-se na física, química e biologia. Reúne cerca de 550 pessoas, entre as quais 300 investigadores e professores-investigadores e cerca de 200 doutorandos distribuídos por 10 unidades de investigação associadas ao CNRS ou ao Inserm. Com uma produção científica de cerca de 450-500 publicações por ano, a Escola gera mais do que uma patente por semana e são criadas 2 ou 3 startups todos os anos há 10 anos.
[3] O termo designa os alunos das Écoles normales supérieures. São nomeados anualmente por despacho do Ministro responsável pelo Ensino Superior, beneficiam do estatuto de funcionário estagiário e estão sujeitos a um regime de estudos específico fixado pelos estabelecimentos. São pagos pelo Estado durante os estudos em troca de um compromisso de dez anos que exige que trabalhem durante 10 anos na função pública. A lei obriga a reembolso caso não o façam.
A chamada cláusula de “compromisso decenal”, do estatuto da Universidade de Napoleão I (1806), foi estabelecida na sua forma actual pelo decreto de 28 de Novembro de 1962, que prevê que aquele compromisso diz respeito à função pública como um todo, e não apenas a funções de ensino como anteriormente. O decreto estabelece também as medidas que implica a violação desse compromisso.
[4] As funções do “preparador” seriam comparáveis às de técnico e assistente de investigação.
[5] Em 1944, após diversas tentativas de comandos britânicos e noruegueses para destruir a unidade de produção, na Noruega, foi possível afundar um ferryboat que levava para a Alemanha todo o stock existente de água pesada.
[6] https://otc.pt/wp/2022/08/04/a-ameaca-nuclear/
[7] Albert Einstein, então refugiado nos EUA e reconhecidamente um pacifista, acreditando que o governo alemão estava a apoiar activamente a investigação nesta área, dirigiu a Roosevelt, então Presidente, a carta que ficou famosa, solicitando que o governo dos Estados Unidos fizesse o mesmo.
[8] Viviam-se nos EUA os anos do McCarthys’mo (1950-54) (https://en.wikipedia.org/wiki/Joseph_McCarthy#:~:text=After%20three%20largely%20undistinguished%20years,employed%20in%20the%20State%20Department )
[9] Do governo saído das eleições legislativas de Outubro de 1945 farão parte cinco ministros comunistas. É na vigência deste governo que o direito de voto é pela primeira vez concedido às mulheres.
[10] É à equipa dirigida por Joliot que se deve a construção do primeiro reactor nuclear francês, Zoé, um reactor de investigação que utiliza água pesada (1948).